53237 - A SEGUNDA OPINIÃO COM O ESPECIALISTA (TELECONSULTORIA) COMO SOLUÇÃO NO ENFRENTAMENTO DAS FILAS AMBULATORIAIS POR ESPECIALISTAS EM FORTALEZA/CEARÁ HELENA PAULA GUERRA DOS SANTOS - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FORTALEZA, CRISTIANE MOURÃO CARVALHEDO MESQUITA - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FORTALEZA, PRISCILLA DIAS LEITE DE LIMA - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FORTALEZA, EMÍLIA ALVES DE CASTRO - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FORTALEZA, THAMIRES ARAÚJO LOPES DE OLIVEIRA - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FORTALEZA, THÁBYTA SILVA DE ARAUJO - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FORTALEZA, KELMA CRISTINA DA SILVA OLIVEIRA - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FORTALEZA, MARCOS COSTA MOURA - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FORTALEZA, CINTHIA SALGADO CARMO GOMES ASSUNÇÃO - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FORTALEZA
Contextualização O Sistema Único de Saúde (SUS) vem enfrentando desafios no seu processo de implementação. Na regulação do acesso os problemas passam por falhas nos encaminhamentos, poucas vagas, excesso de demanda, aumento da demanda reprimida eletiva, em especial após a pandemia, e dificuldades no fluxo de informações entre a atenção primária e a regulação.
A Atenção Primária à Saúde (APS) é essencial para a promoção da saúde, prevenção de doenças e tratamento inicial, sendo a porta de entrada do sistema. Fortaleza, a 4ª maior capital do Brasil, com 2,4 milhões de habitantes, possui uma Rede de APS composta por 120 unidades e 503 equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF).
A fila ocorre quando a demanda por serviços excede a capacidade do sistema, resultando em longos tempos de espera, avaliações negativas dos usuários, agravamento de problemas de saúde e aumento dos custos de tratamento. Muitas vezes, os profissionais da APS têm dúvidas na avaliação de casos, o que leva a encaminhamentos excessivos e filas evitáveis.
Na busca por soluções implantou-se o serviço de "Segunda Opinião". Este interliga especialistas e médicos da APS para resolver dúvidas sobre condutas clínicas, evitando encaminhamentos desnecessários e agilizando prescrições. O serviço é coordenado pela Coordenadoria de Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria (CORAC) de Fortaleza, visando reduzir filas e tempos de espera.
Descrição da Experiência O município de Fortaleza, enfrentando desafios comuns na APS, como alta demanda e escassez de especialistas, identificou a necessidade de uma ferramenta que oferecesse suporte adicional aos profissionais da APS. A Segunda Opinião foi pensada como uma solução viável para melhorar a tomada de decisão clínica na APS, reduzir filas de espera por especialistas, e aumentar a satisfação dos pacientes e resolubilidade na APS.
A implantação envolveu várias etapas, integrando a equipe da Coordenação de Atenção Primária e Psicossocial (CORAPP) com a equipe da CORAC. Houve também a capacitação dos profissionais de APS e dos médicos especialistas para o uso da ferramenta, que foi disponibilizada no sistema de prontuário eletrônico utilizado, o Fast Medic. O projeto foi executado em fases, começando com um piloto com as especialidades: cardiologia, endocrinologia, mastologia, dermatologia, gineco-obstetrícia e urologia. Atualmente, além das citadas, agregaram-se outras: odontologia (com suas diversas especialidades), psiquiatria, hematologia e pediatria.
Objetivo e período de Realização ● Diminuir número de encaminhamentos, consequentemente reduzir as filas de espera;
● Enfrentar os maiores gargalos ambulatoriais das mais de mil filas especializadas existentes;
● Qualificar os encaminhamentos da APS;
● Ampliar o diálogo especialista/profissional generalista da APS;
● Aperfeiçoar o fluxo de informações entre regulação e APS,
● Diminuir o tempo de espera pela consulta especializada;
● Evitar deslocamentos dos pacientes;
A implantação aconteceu em junho de 2023 até os dias atuais.
Resultados A “Segunda Opinião” equivale a uma opinião qualificada ou formativa de um especialista que serve como suporte na tomada de decisão, para optar pelo melhor tratamento do usuário em atendimento, confirmando o já utilizado ou sugerindo uma nova opção. Baseado nisso pode-se dizer que os benefícios da Segunda Opinião são o esclarecimento de dúvidas, troca de informações, ampliação de conhecimentos, reforço de diagnósticos assertivos, correção de diagnósticos equivocados, maior segurança na escolha do tratamento, evitando encaminhamentos desnecessários e qualificando os encaminhamentos feitos.
Foram realizados 9.257 acessos da APS, com 12.819 dúvidas respondidas pelos especialistas, no período de junho de 2023 até maio de 2024, nas diversas especialidades. Em análise realizada no sistema, baseado no mês de início da estratégia, comparando com os demais meses, tomando o maior valor de inserção e o menor observou-se redução de 54,8% na inserção de novos encaminhamentos para a fila de endocrinologia, 41,1% de redução na inserção para dermatologia, 38,7% de redução na inserção para cardiologia, 31,9% de redução na mastologia e gineco-obstetrícia, na urologia houve 31,5% de redução.
Aprendizado e Análise Crítica A ferramenta foi concebida para proporcionar um apoio contínuo para a ESF, auxiliando na avaliação de casos corriqueiros e mais complexos. O objetivo principal era aprimorar o diagnóstico e o tratamento, evitando encaminhamentos desnecessários e agilizando as prescrições e resoluções dos casos. A implementação envolveu a integração de médicos especialistas com os profissionais da APS por meio de uma plataforma de comunicação eficiente e segura. A iniciativa teve sucesso, acima do esperado, os números dos acessos e resultados demonstram que a inovação tecnológica em saúde é o caminho a seguir para solucionar os maiores gargalos ambulatoriais. Com a ferramenta, consegue-se discutir casos com especialistas de forma assíncrona, num prazo de até 72 horas, dando orientações precisas que permitiram um ajuste e resolução imediata no tratamento do paciente. Houve redução de encaminhamentos, maior agilidade no atendimento, maior satisfação dos usuários e aprimoramento profissional da APS.
Apesar dos benefícios já observados e mensurados, a implementação da ferramenta também enfrenta desafios. A adaptação à nova tecnologia e ao fluxo de trabalho exigiu, e continua exigindo, treinamento e tempo. Faz-se necessário a oferta e ampliação para as demais especialidades médicas. No entanto, a receptividade positiva dos profissionais de saúde e os resultados observados justificam os esforços.
Referências 1. Bastos LBR, et al. Desafios da regulação do Sistema Único de Saúde. Rev Saude Publica. 2020;54:25.
2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Demográfico 2022: população e domicílios: primeiros resultados. Rio de Janeiro: IBGE, 2023.
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4. Pereira, L. M., & Santos, M. B. (2021). "Regulação em Saúde: A utilização da segunda opinião médica como ferramenta estratégica." Revista Brasileira de Gestão em Saúde, 12(1), 33-47. DOI: 10.1177/1806164821047479.
5. Cruz, E. M., & Lima, A. G. (2022). "Impactos da segunda opinião médica no sistema de regulação de saúde pública." Saúde em Debate, 46(1), 67-81. DOI: 10.1590/0103-11042022S107.
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