52224 - ANÁLISE DE FILAS DE ESPERA E DE ABSENTEÍSMOS DE CONSULTAS E EXAMES EM UMA REDE INTERESTADUAL DE SAÚDE. RONALD PEREIRA CAVALCANTI - UFPE, SANDY GUEDES PEREIRA - UFPE, ROGÉRIO FABIANO GONÇALVES - UPE, KEILA SILENE DE BRITO E SILVA - UFPE, CARLOS RENATO DOS SANTOS - UFPE, ADRIANA FALANGOLA BENJAMIN BEZERRA - UFPE
Apresentação/Introdução O funcionamento operacional e logístico das redes de atenção à saúde depende, dentre outros elementos, da regulação assistencial. Esta tem como objetos a organização, o controle, o gerenciamento e a priorização do acesso e dos fluxos assistenciais no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) (Brasil, 2008). Fatores que dificultam o acesso às consultas especializadas e exames estão associados ao desequilíbrio entre oferta e demanda, sendo este um problema mundialmente relatado. Mesmo compreendendo-se a multicausalidade deste desequilíbrio que foge ao objeto deste estudo, parte dele pode ser enfrentada com propostas como a gestão dos tempos e filas de espera e/ou redesenhos dos fluxos de acesso, sendo o foco de diversas propostas encontradas na literatura (Harding et al., 2024). Os absenteísmos aos agendamentos de consultas e exames também são problemas mundialmente relatados na literatura, contribuem para o aumento das filas de espera e estão associados às desigualdades econômicas, raciais e de gênero (Wagner et al., 2024). O monitoramento e a avaliação do absenteísmo e das longas filas de espera é um ponto de partida para subsidiar tomadas de decisão e o planejamento estratégico, portanto, estudos nesta temática podem contribuir para a efetivação de direitos ao acesso aos serviços.
Objetivos Analisar nas diversas especialidades ofertadas em uma Rede Interestadual de Saúde, aspectos relacionados à produção, absenteísmos e as filas de espera de consultas e exames.
Metodologia É um estudo descritivo, transversal e quantitativo, sobre os serviços da Macrorregião IV, com sede em Petrolina-PE, abrangendo usuários também referenciados da Macrorregião de Juazeiro-BA, sendo estas as duas regiões que compõem a Rede Interestadual Pernambuco-Bahia (Rede PEBA), onde se articulam 53 municípios com aproximadamente 1,9 milhões de habitantes, e, desde 2011, sedia a primeira Central de Regulação Interestadual de Leitos (CRIL) do País. Os dados são referentes às solicitações de consultas e exames agendados via regulação na região de assistência na Rede PEBA, realizados em ambulatório ou urgência no estado de Pernambuco, fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde de PE. As variáveis foram analisadas sobre as 6 maiores produções anuais, em períodos variados, de acordo com a disponibilidade destas no banco de dados: absenteísmo (2012 a 2019) e tempo de espera (2014 a 2019) das consultas e exames. Os resultados foram analisados quanto ao total, médias anuais, mínimos, máximos e percentuais. O estudo foi aprovado em comitê de ética da UFPE com parecer nº 3.232.018 e CAAE: 04186917.2.0000.5208.
Resultados e Discussão Segue o total de agendamentos de consultas e exames e respectivos absenteísmos (total, média anual, percentual na especialidade e percentual geral): Dermatologia (agendamentos – 59.456; absenteísmo – 16.689, 2.086, 28,07%, 11,71%); Oftalmologia (agendamentos – 85.298; absenteísmo – 15.418, 1.927, 18,07%, 10,82%); Cardiologia (agendamentos – 51.763; absenteísmo – 12.178 1.522 23,53%, 8,54%); Ortorrinolaringologia (agendamentos – 42.055 ; absenteísmo – 9.261, 1.158, 22,02%, 6,49%); Gastroenterologia (agendamentos – 42.055; absenteísmo – 9.261, 1.158, 22,02%, 6,49%); Mamografia (agendamentos – 39.253; 8.751; absenteísmo – 1.094; 22,29%; 6,14%). Total de consultas e exames agendados e respectivos tempos medianos de espera em dias: Oftalmologia (44.551; 27), Dermatologia (29.816; 20), Cardiologia (27.965; 21), Otorrinolaringologia (20.650, 28), Endocrinologia (19.994; 20), Outras (119.510), Mamografia (20.070, 20), Tomografia (12.615, 22), Ressonância (2.777, 36), Cintilografia (1.342, 20), Eletrocardiograma (979, 19) e Outros (1.636). O tempo de espera com mediana de mais de 20 dias em todos os itens analisados, exceto o eletrocardiograma (19 dias), sugere demanda reprimida e discussão sobre a distribuição territorial dos serviços e fatores socioeconômicos como possíveis barreiras ao acesso, como apontou Wagner et al. (2024) e Harding et al. (2024). Apesar deste estudo apresentar limitações em virtude da utilização de dados administrativos como registros incorretos, erros ou ausência de informação, são destacados os percentuais de absenteísmos que podem sofrer intervenção para a redução de filas de espera, ampliação do acesso e maior eficiência na prestação dos serviços.
Conclusões/Considerações finais Os percentuais de absenteísmo encontrados neste estudo apontam que esta variável, sendo bem monitorada e avaliada, pode contribuir para a redução de filas de espera, uma vez que parte daqueles que faltam ao serviço agendado, retornam à fila para o acesso. A magnitude evidenciada destes absenteísmos e filas de espera é suficiente e, ao mesmo tempo, subsídio para que no planejamento estratégico dos espaços de gestão regionais de saúde se discuta aspectos da multicausalidade das barreiras ao acesso, e que, uma vez não consideradas, perpetuam as perdas de recursos e reduzem a garantia dos direitos de acesso aos serviços de saúde.
Referências Brasil, Ministério da Saúde. Portaria GM Nº 1.559, de 1º de agosto de 2008. Institui a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde - SUS. 2008.
Harding KE, Lewis AK, Dennett A, Hughes K, Clarke M, Taylor NF. An evidence-based demand management strategy using a hub and spoke training model reduces waiting time for children's therapy services: An implementation trial. Child Care Health Dev. 2024 Jan;50(1):e13154.
Wagner SK, Raja L, Cortina-Borja M, Huemer J, Struyven R, Keane PA, Balaskas K, Sim DA, Thomas PBM, Rahi JS, Solebo AL, Kang S. Determinants of non-attendance at face-to-face and telemedicine ophthalmic consultations. Br J Ophthalmol. 2024 Mar 20;108(4):625-632.
Fonte(s) de financiamento: Fomento: FACEPE. Chamada PPSUS/2017 - Processo APQ-0561-4.06/17.
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