Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
CC2.11 - Saberes em movimento: Vigilância Popular nos Territórios e Produção de Conhecimento

50637 - PLURALIDADE DE SABERES E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM RESPOSTA AOS DESASTRES: UMA EXPERIÊNCIA COMUNITÁRIA EM CONDE- BA
FRANCIE GALLOWAY SENTILLES - UNIVERSIDADE DA CAROLINA DO NORTE DE CHAPEL HILL, TIALA SANTANA SANTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, LOUISE OLIVEIRA RAMOS MACHADO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, MERCY LINDEN NEAL - UNIVERSIDADE DA CAROLINA DO NORTE DE CHAPEL HILL, LUIZA MONTEIRO BARROS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, MARIANA NASCIMENTO CARVALHO - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, MARCIANE NUNES CARDOSO - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, VERÔNICA MOITINHO SENA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, JOSÉ ERIVALDO GONÇALVES - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ, RITA DE CÁSSIA FRANCO RÊGO - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


Contextualização
Em 2019, ocorreu o maior derramamento de petróleo da história do Brasil. Toneladas do óleo atingiram ambientes importantes para a biodiversidade do país, incluindo áreas de pesca e mariscagem para cerca de 150.000 trabalhadores. Diante deste cenário, pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em parceria com a Universidade da Carolina do Norte de Chapel Hill (UNC-Chapel Hill) e representantes da pesca, somaram esforços para realizar pesquisas em comunidades atingidas na Bahia e Sergipe a fim de documentar a exposição ao petróleo e os efeitos à saúde de pescadores(as) artesanais. No trabalho de campo, observou-se que os pescadores foram os primeiros respondentes ao desastre, ainda que dispusessem de pouco ou nenhum apoio do Estado. Em 2022, ao entrevistar 15 lideranças da pesca sobre as respostas da comunidade ao derramamento, emergiu a preocupação quanto à possibilidade de ocorrência de novos desastres e a forma como lidariam com a situação, sendo sugerido a realização de um treinamento de resposta aos desastres. Frente a isso, a equipe de pesquisa contactou secretarias e órgãos locais e lideranças da pesca para dialogar sobre essa necessidade e as possíveis estratégias que seriam adotadas. Deste modo, uma oficina piloto foi desenvolvida como estratégia de aprendizagem para interação e troca de saberes em resposta aos desastres.


Descrição da Experiência
A oficina foi realizada na Colônia de Pescadores Z-31 no município de Conde-BA, por uma equipe de 12 pesquisadores e com a participação de pescadores(as) artesanais e representantes dos setores de saúde, assistência social, defesa civil e secretaria de meio ambiente. O conteúdo versou sobre: a compreensão das exposições químicas como um risco à saúde; estratégias para proteção e redução de danos e a organização da comunidade durante desastres. Para cada tópico foram consideradas diferentes abordagens. Inicialmente foram realizadas três apresentações utilizando recursos audiovisuais para fornecer informações prioritárias sobre as exposições e riscos de natureza química e recomendações e ações a serem adotadas. Outras cinco atividades interativas foram discutidas com o tema enfrentamento ao desastre, são elas: Atividade do rio da vida: para compartilhar e rememorar as experiências com o derramamento de petróleo; Produção de um fluxograma construído coletivamente; Teatro: cenas que retratavam as experiências dos participantes e comportamentos de resposta a desastres consideradas de alto risco; Jogo de Fato ou Fake, para avaliar a apreensão do conteúdo; e a produção de vídeos para compartilhar com a comunidade. A oficina foi encerrada com a avaliação da atividade, conteúdo e a organização do espaço através de facilitadores em uma roda de conversa em pequenos grupos.


Objetivo e período de Realização
O ciclo de oficinas objetivou facilitar o diálogo com os membros da comunidade sobre as experiências com o derramamento de petróleo e fornecer informações e ferramentas básicas para guiar as ações e aumentar a confiança e segurança em caso de um futuro desastre. Em abril de 2023, iniciou-se a fase de organização das oficinas e as atividades foram realizadas entre os dias 17 e 19 de julho de 2023.


Resultados
Aproximadamente 20 pessoas participaram da oficina, sendo que 15 compareceram a cada dia. As apresentações e dinâmicas fomentaram as discussões sobre a aplicabilidade das estratégias de resposta apresentadas pelo grupo e a análise crítica na tomada de decisão. O desenvolvimento de dois fluxogramas favoreceu a aplicação do conhecimento com contribuição ativa dos participantes e maior interação entre pescadores e representantes dos órgãos e instituições locais. No primeiro, foi possível localizar os serviços de saúde e de gestão do município que podem ser acionados em casos de desastres e as respectivas informações de contato. No segundo contém informações sobre os riscos à saúde e as estratégias para prevenir exposições ao petróleo. Os fluxogramas foram configurados e impressos em banners que foram expostos na colônia de pescadores de Conde. A compreensão do conteúdo abordado na oficina foi avaliada com a atividade Fato ou Fake de modo satisfatório pelos participantes. A aprendizagem adquirida foi avaliada também através da construção de vídeos pelos participantes, propiciando o aperfeiçoamento da capacidade de comunicação e divulgação do conteúdo para outros membros da comunidade.


Aprendizado e Análise Crítica
A confluência de saberes e a articulação da Universidade com a organização social demonstrou ser uma importante forma de aprendizado para ambos. Desde a concepção, o ciclo de oficinas foi estruturado com a colaboração ativa de lideranças da pesca na logística, conteúdo abordado e sugestão de um espaço de atividades para as crianças, o que foi fundamental para garantir que as mulheres com filhos participassem da oficina. A presença de representantes do setor saúde, assistência social, meio ambiente e defesa civil foi importante para compreender a dinâmica do local, as dificuldades enfrentadas e os pontos de intersecção capazes de fortalecer a comunicação e as estratégias comunitárias em momentos de crise. A oficina fomentou ainda a análise crítica da equipe sobre a aplicabilidade de recomendações gerais em contextos específicos, considerando condições socioeconômicas e estruturais. Reconhecemos como satisfatória a realização do ciclo de oficinas e consideramos que em outra oportunidade a inclusão de especialistas em desastres será importante para fortalecer o diálogo e as capacidades necessárias em situações adversas que possam afetar a comunidade. Além disso, reforçamos a necessidade de ampliação do diálogo e articulação de saberes e práticas entre gestão e as comunidades diretamente afetadas por desastres.


Referências
Pena PGL, Northcross AL, Lima MAG, Rêgo RCF. Derramamento de óleo bruto na costa brasileira em 2019: emergência em saúde pública em questão. Cad. Saúde Pública 2020; 36(2):e00231019

Síveres L. A Extensão universitária como um princípio de aprendizagem. Brasília: Liber Livro, 2013.272 p. 17 cm.

Rego RF, Muller JS, Falcão, IR, Pena, PGL. Vigilância em saúde do trabalhador da pesca artesanal na Baía de Todos os Santos: da invisibilidade à proposição de políticas públicas para o Sistema Único de Saúde (SUS). Rev Bras Saúde Ocup 2018; 43(Supl. 1):1-9.

Carvalho IGS, Rego RCF, Larrea-Killinger C, Rocha JCS, Pena PGL, Machado LOR. Por um diálogo de saberes entre pescadores artesanais, marisqueiras e o direito ambiental do trabalho. Cien Saude Colet 2014; 19(10):4011-4022.

Fonte(s) de financiamento: “Community Engagement Fellowship” da Universidade de Carolina do Norte em Chapel Hill.

Capes, CNPQ, Ministério da Saúde, INCT do ministério de Ciência e tecnologia.


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