Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC2.10 - Desafios do Direito à Saúde de Populaçoes Vulnerabilizadas a partir das Experiências nos Territórios

53684 - PERFIL DAS VÍTIMAS E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS NOTIFICAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA BAHIA
BEATRIZ MOTA GOMES - UEFS, FELIPE SOUZA DREGER NERY - UEFS, MONA GIZELLE DREGER NERY - UEFS


Apresentação/Introdução
“Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.” Esse dito popular é um exemplo que demonstra como ideologias são naturalizadas e passadas de geração em geração para normalizar a violência contra as mulheres, seja ela no âmbito privado ou público, redimindo-as a subalternidade. Entende-se que esse é um problema social grave com repercussões importantes para a saúde pública e se expressa através da violação dos direitos humanos, sendo fruto da herança patriarcal, reforçado pela desigualdade de gênero e se refletindo, tanto nas relações interpessoais, quanto nas instituições políticas e legais. No Brasil, 18,6 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência ou agressão no ano de 2022, nesse contexto, a Lei Maria da Penha (LMP) é um dos principais aparatos legais no combate à violência, porque prevê, além da punição dos agressores, que as vítimas recebam a proteção necessária, oferecendo-lhes abrigo e serviços de apoio jurídico, psicoemocional. A rede de atenção à saúde, em muitos casos, é o primeiro contato da mulher agredida à uma política de amparo e, portanto, a notificação desse tipo de crime é vital para protegê-las, romper o ciclo de violência e evitar seu desfecho letal, os feminicídios.

Objetivos
Caracterizar o perfil epidemiológico das notificações de violência contra as mulheres no estado da Bahia no ano de 2022, analisar sua distribuição espacial segundo municípios e discutir as principais políticas sociais e de saúde de amparo às vítimas.

Metodologia
Estudo ecológico cujas unidades de análise foram os municípios da Bahia, observados no ano de 2022 – ano mais recente de divulgação dos dados no SINAN. As notificações das vítimas de agressões foram obtidas em abril de 2024 e seu processamento foi realizado através do Tabwin, Microsoft Excel e R Project. Foram analisadas descritivamente as variáveis relacionadas ao perfil (idade, raça/cor, estado civil, tipo de violência, entre outras) e calculadas as taxas de notificações cada município baiano (apresentadas para cada 10 mil mulheres com idade de 10 anos ou mais) – os dados populacionais foram levantados através do censo de 2022 do IBGE. Os softwares GeoDA 1.22, QGis 3.36.3 e malha territorial da Bahia por municípios foram utilizados na análise exploratória de dados espaciais (georreferenciamento das notificações e taxas, estimativas dos índices de Moran e identificação de clusters através do indicador LISA). Destaca-se que a pesquisa faz parte de um projeto guarda-chuva intitulado: “Aspectos epidemiológicos e criminais do feminicídio na Bahia segundo raça/cor da pele e fatores associados” já aprovado pelo CEP da Universidade Estadual de Feira de Santana.

Resultados e Discussão
Na Bahia, em 2022, foram analisadas 9.312 notificações de mulheres vítimas de violência, representando uma taxa de 12,8 casos para cada 10 mil mulheres. Destacaram-se as cidades de Salvador, capital da Bahia, com 27,6% das notificações, Feira de Santana (6,8%) e Vitória da Conquista (5,6%). Na análise espacial, observou-se a formação de clusters do tipo Alto-Alto (LISA = 0,034, pseudo p-valor 0,046) nos municípios de Camaçari, Lauro de Freitas, Simões Filho e Vera Cruz, todos da região metropolitana de Salvador. As maiores concentrações de casos nessas regiões, indicam que, além das mazelas sociais, o território é marcado pela impunidade, ineficiência das políticas sociais e o forte pensamento patriarcal. Percebeu-se que a violência contra a mulher estabelece íntima relação com a violência no contexto geral, pois os municípios que se destacaram, também se enquadram entre os mais violentos do país. Quanto ao perfil, as vítimas eram solteiras (66,7%), negras (88,3%), com idade entre 20 e 29 anos (27,3%) e de baixa escolaridade (61,3%). De forma particular, o corpo da mulher negra é mais atingido pelas violências, reafirmando o impacto do racismo estrutural. Já a elevação do nível de escolaridade, parece reduzir a vulnerabilidade, ao romper seu ciclo por meio do empoderamento e da independência feminina, assim, políticas de acesso ao ensino de qualidade são fundamentais. Identificamos ainda que a violência física correspondeu a 76,3% das notificações, ocorrendo no lar (74,3%), com histórico de recidiva (57%) e tendo os homens como principais perpetradores (62,3%). Assim, o lar é visto como um lugar de chefia e dominação masculina, já a figura feminil é tida como objeto que ornamenta a casa, e nessas condições justificam-se os casos de violência.



Conclusões/Considerações finais
A violência de gênero está firmada no domínio masculino, de forma multifatorial, atingindo a todas as mulheres, porém em diferentes intensidades. Dessa forma, nossos achados reforçam um perfil já conhecido pela literatura e instauram a ideia da negligência estatal em determinadas áreas urbanas. Na política, as ações ineficazes do Governo para frear o agravo, acabam por intensificar e manter a vulnerabilidade de determinados grupos, culminando frequentemente nos feminicídios. Assim, combater a violência contra a mulher requer uma abordagem integrada, incluindo a aplicação rigorosa das leis de proteção à vida, além de fortalecer as redes de apoio às vítimas. É preciso integrar o uso das pesquisas científicas que fornecem dados dos fatores associados e perfis epidemiológicos, entre outras, para elucidar a complexidade desse problema e permitir a formulação de políticas públicas mais eficazes e direcionadas particularmente para o empoderamento feminino.



Referências
BRILHANTE, Aline V. M. et al. Construção do estereótipo do “macho nordestino” nas letras de forró no Nordeste brasileiro. Interface (Botucatu), v. 22, n. 64, p. 13–28, 2018
CARRIJO, Christiane; MARTINS, Paloma A. A violência doméstica e racismo contra mulheres negras. Revista Estudos Feministas, v. 28, p. e60721, 2020
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil. São Paulo: FBSP, 2023. Disponível em: https://publicacoes.forumseguranca.org.br/handle/123456789/224. Acesso em: 08 jun. 2024
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Atlas da violência 2021. Brasília: IPEA, 2021. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/27/atlas-da-violencia-2021. Acesso em: 8 jun. 2024
MENEGHEL, Stela N.; PORTELLA, Ana Paula. Feminicídios: conceitos, tipos e cenários. Cien Saúde Colet, v. 22, p. 3077-86, 2017.
MINAYO, Maria Cecília de S. Violência e saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006

Fonte(s) de financiamento: Programa Interno de Auxílio Financeiro à Pesquisa (FINAPESQ) da Universidade Estadual de Feira de Santana.


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