53226 - TRAÇOS, CORES E SENTIMENTOS: MODOS DE EXPRESSAR O DESAFIO VIVENCIADO POR AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE EM CENÁRIOS DE VIOLÊNCIA MARIA ELIENE MAGALHÃES TEIXEIRA - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, FORTALEZA - CE, ANA PATRÍCIA PEREIRA MORAIS - UECE, CIBELLY MELO FERREIRA - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE - FORTALEZA, CE, GABRIEL SANTANA RODRIGUES - UECE, AMANDA BURITI DA SILVA - UECE, ANYA PIMENTEL GOMES FERNANDES VIEIRA-MEYER - FIOCRUZ -CE
Contextualização Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) desempenham um papel fundamental entre as comunidades e o sistema de saúde. Entretanto, o contexto de violência urbana e doméstica ao qual esses profissionais estão expostos impacta diretamente suas condições de trabalho e saúde mental (Vieira-Meyer et al., 2021).
No ambiente urbano, a violência pode se manifestar de diversas formas, gerando um constante estado de alerta e estresse para os ACS. Além disso, a violência doméstica, presenciada ou informada, pode gerar um sentimento de impotência e frustração, uma vez que os ACS frequentemente lidam com situações complexas de conflito e de difícil resolução.
A exposição repetida a esses cenários traumáticos contribui para o desenvolvimento de transtornos mentais, como ansiedade, depressão e síndrome de burnout (Oliveira; Valença, 2020).
O impacto da violência no processo de trabalho dos ACS não só compromete a saúde mental desses profissionais, mas também a qualidade do serviço prestado à comunidade. Portanto, é imprescindível que políticas públicas e estratégias de intervenção sejam implementadas para oferecer suporte psicológico e garantir condições de trabalho seguras e dignas para os ACS, reconhecendo seu papel na construção de comunidades mais saudáveis e seguras (Vieira-Meyer et al., 2021).
Processo de escolha do tema e de produção da obra A escolha do tema foi motivada a partir de pesquisa multicêntrica que avaliou a influência da violência no trabalho e na saúde mental dos ACS. A pesquisa foi conduzida pelo grupo de pesquisa Nós APS Brasil, realizada com 1944 ACS, em oito municípios nordestinos, dentre estes quatro capitais. Os achados mostraram que cerca de 40,5% deles estão em risco de Transtorno Mental Comum e que a violência afeta diretamente a saúde desses trabalhadores ACS.
A cada etapa, os ACS envolveram-se integralmente, com opiniões e expressões que permitiam aos pesquisadores análises mais críticas e reflexivas. Na fase analítica dos dados (quantitativos e qualitativos) foi apresentado ao grupo uma coletânea de imagens/pinturas, produzidas por ACS integrante da pesquisa, que demonstravam a expressão de sentimentos sobre a experiência dos ACS frente aos desafios de atuar em cenários de violência, como o medo, a angústia e o sofrimento pela ameaça à própria vida. As imagens deflagraram junto ao grupo a fundamental presença da ACS e suas produções na discussão dos dados e revelação imagética do cotidiano nos territórios vulnerabilizados pela violência. As oficinas de análise e de devolutiva de dados foram gerando conteúdo inspirador à produção artística, foram selecionadas dez (10) pinturas que nos apresentam os sentimentos e as vivências dos ACS em seus territórios de atuação.
Objetivo e período de Realização O objetivo desta obra é analisar, com o apoio de pinturas artísticas produzidas nos últimos três anos, o impacto da violência urbana, doméstica e institucional no processo de trabalho e na saúde mental dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Busca-se identificar, nas obras, as principais formas de violência enfrentadas e como essas experiências são retratadas, além de compreender o reflexo dessas vivências na saúde mental dos ACS e propor intervenções para melhorar suas condições de trabalho e bem-estar.
Descrição da Produção A coletânea foi realizada por uma Agente Comunitária de Saúde, integrante do grupo Nós APS Brasil, que atua em UBS. Serão apresentadas as imagens: 1) Cenas de violência e o ACS como apoiador emocional; 2) ACS se reinventa diante da violência; 3) Violência Doméstica: o ACS e apoio para às vítimas; 4) O principal Defensor: conflitos na comunidade e a pandemia; 5) Diante da violência, o ACS e a sobrecarrega emocional; 6) ACS DEFENSOR: Diante de diversas problemas; 7) DESIGUALDADE SOCIAL: ACS e o auxílio aos mais pobres; 8) O GRANDE ENCONTRO: ACS compartilha dificuldades e alegrias; 9) CUIDADO ONDE PISA: ACS e o risco de violência; 10) UM MERO ESPECTADOR: a violência limita a atuação do ACS.
Ficha Técnica:
Artista: Maria Eliene Magalhães Texeira (Texeira, M. E. M.)
Título da obra: “Traços, cores e sentimentos: modos de expressar o desafio vivenciado por agentes comunitários de saúde em cenários de violência”.
Data de criação: 2022 a 2024
Método de realização: aquarela em papel canson específico
Dimensões: papel A3 e A4
Link de acesso às imagens:
https://drive.google.com/drive/folders/1r38UPOROKdG2Q9yUbXQ-1lMpqZrgW6H-
Apresentação - imagens projetadas: 15 minutos e com as imagens originais
Análise crítica da obra A produção artística representa a ótica de uma trabalhadora que atua como ACS na Atenção Primária à Saúde (APS), estão em tela sentimentos que revelam fragilidades e as situações vivenciadas que os afetam e os ameaçam no cotidiano, mas ao pintar e reuni-las em uma coletânea, a artista nos possibilita diversos encontros e reflexões sobre a necessidade de se propor intervenções de cuidado juntos ao trabalhador da saúde que busquem melhoria das condições de trabalho e bem-estar.
A maioria dos ACS reside no território em que trabalha e esse contexto muitas vezes agrava o adoecimento mental por diversas questões, dentre as quais podemos citar:
1- A alta demanda da população e a baixa capacidade de respostas relacionadas aos serviços de saúde ofertados;
2- O constante medo gerado pelo fato de saber muito sobre o espaço em que atuam, o que gera um constante estado de alerta relacionado ao que se pode falar;
3- O testemunho de diversas cenas violentas causadas por conflitos oriundos das disputas de território ou outros tipos de violência.
Diante destes cenários, os ACS apresentam sofrimentos psíquicos e isto requer a formulação de políticas que reforcem o apoio institucional a estes trabalhadores, visto que são um elo fundamental entre a comunidade e a APS, principal porta de entrada do SUS, segundo a Política Nacional da Atenção Básica (2017).
Referências Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2017.
OLIVEIRA, Gustavo Carvalho de; VALENÇA, Alexandre Martins. Institucionalização prolongada, transtornos mentais e violência: uma revisão científica sobre o tema. Saúde e Sociedade, v. 29, p. e190681, 2021.
VIEIRA-MEYER, Anya Pimentel Gomes Fernandes et al. Violência e vulnerabilidade no território do agente comunitário de saúde: implicações no enfrentamento da COVID-19. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, p. 657-668, 2021.
Fonte(s) de financiamento: Grupo de pesquisa NÓS APS BRASIL
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