52421 - A PERSPECTIVA DOS JOVENS SOBRE OS DESAFIOS E AS ADAPTAÇÕES PARA SOBREVIVER E RECUPERAR DA COVID-19 EM TERRITÓRIOS VULNERÁVEIS LUCIANA MACIEL BIZZOTTO - USP, LEONARDO RAFAEL MUSUMECI - USP, YORMAN PAREDES MARQUEZ - USP, INGRID BATISTA VIEIRA - USP, LAURA DE SEIXAS BENINI - FCMSCSP, LEANDRO LUIZ GIATTI - USP
Apresentação/Introdução Os jovens brasileiros que vivem em territórios urbanos vulneráveis estão dentre os grupos mais impactados pela pandemia da Covid-19, devido à omissão e à ausência de políticas que levaram a barreiras educacionais, ao aumento da insegurança alimentar e ao isolamento social. Como resultado, sua saúde foi severamente afetada, sobretudo a saúde mental (Andres et al., 2023). Atentos para essa lacuna nas políticas públicas e mobilizados pela promoção da participação política de jovens, o projeto "PANEX-YOUTH: Adaptações de jovens em comunidades vulneráveis para sobreviver e recuperar da Covid-19 e de restrições associadas" busca compreender e avaliar o impacto da Covid-19 e de políticas associadas na alimentação, educação e lazer de jovens (10-24 anos) que vivem em territórios urbanos desprotegidos. A parceria entre pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP com demais universidades do Reino Unido e África do Sul por meio da chamada "Trans-Atlantic Platform Recovery, Renewal and Resilience in a Post-Pandemic World" tem o propósito de mapear convergências e propor diálogos internacionais. No Brasil, foi realizada pesquisa participativa com 32 organizações em São Paulo e 44 jovens residentes de Heliópolis e Paraisópolis. Este trabalho apresenta alguns dos resultados obtidos por meio da interlocução com os jovens durante a investigação.
Objetivos Promover o diálogo intergeracional e a construção de recomendações para garantia de direitos de jovens em contextos de crises sistêmicas, dada a experiência da Covid-19. Foram escolhidos os componentes educação, alimentação e lazer por sua interconexão com a saúde e o bem estar de jovens. Buscou-se identificar a dimensão espacial da vulnerabilidade e o papel do território no desencadeamento de adaptações temporárias, permanentes, multiescalares e colaborativas de resiliência.
Metodologia Em colaboração com a ONG Pró-Saber, em Paraisópolis, e a UNAS Heliópolis e Região, por meio do Observatório De Olho na Quebrada, foram adotados métodos participativos de escuta dos jovens baseados pela abordagem freireana que preza pelo diálogo pautado em interações simétricas entre atores sociais em um processo de reciprocidade em aprendizagem (Wallerstein et al., 2017). Os encontros com os jovens aconteceram entre junho e agosto de 2023 e dois workshops se deram em outubro de 2023 e fevereiro de 2024 em uma interlocução com jovens e integrantes de algumas das organizações comunitárias participantes do projeto. Dentre as abordagens metodológicas adotadas, encontram-se: oficinas de "world café" a fim de promover o diálogo entre os jovens participantes em reflexões coletivas e intergeracionais sobre temas de interesse da pesquisa; e criação de "visual webs", um trabalho com cartazes e imagens para apreender as representações individuais e subjetivas dos jovens em relação aos desafios urbanos da pandemia. A combinação de ambos os processos permitiu abordar questões relacionadas ao acesso à educação, alimentação e lazer em suas comunidades de maneira integrada.
Resultados e Discussão A pesquisa reiterou, portanto, o potencial de metodologias participativas para demonstrar a multiplicidade de fatores que afetam os jovens a partir do contexto de crise sanitária, cujas consequências são multifacetadas e com perspectiva de danos prolongados e duradouros para os jovens. Os resultados preliminares destacaram a importância da escuta de jovens na construção da pesquisa e na elaboração de políticas públicas. Foram abordados tópicos como: importância de instituições locais na trajetória de jovens; desafios da insegurança alimentar em comunidades e mudanças nos padrões alimentares de jovens devido à inflação e aos altos índices de desemprego; impossibilidades do ensino remoto ofertado e dificuldades do retorno ao ensino presencial; e impacto para a saúde mental no contexto do isolamento, reiterando os riscos da superexposição nas redes sociais. Dentre as recomendações levantadas a partir da interlocução entre o discurso dos jovens e a revisão de relatórios oficiais, destacou-se: necessidade de manter crianças e jovens no centro das políticas de prevenção; importância de priorizar a atenção às vozes e às experiências de jovens, especialmente aqueles mais invisibilizados; reconhecimento do papel crucial desempenhado por escolas e ONGs como centros de cuidados e de cidadania; reconhecimento da importância do lazer como direito fundamental dos jovens; e necessidade de encaminhar respostas sistêmicas a múltiplas dimensões de risco nas políticas nacionais, com base numa avaliação coletiva dos acontecimentos durante a pandemia.
Conclusões/Considerações finais No contexto de urgência e incerteza (Giatti et al., 2021) da pandemia da Covid-19 no Brasil, como os efeitos clínicos em jovens pareciam menos letais, esse grupo social foi ignorado nas principais medidas políticas, trazendo implicações de médio e longo prazo para sua saúde e bem estar. Contudo, as experiências e potencialidades da ação política juvenil (Häkli and Kallio 2018) é componente pertinente para aprimorar a execução ou implementação de ações e políticas públicas, contribuindo com recursos e capacidades locais para a promoção da saúde. Assim, o conhecimento dos impactos e das possibilidades de resposta desse grupo deve propiciar aprendizagens e ações mais integradas no campo da saúde pública.
Referências Andres, L., Moawad, P., Kraftl, P., Denoon-Stevens, S., Marais, L., Matamanda, A., Bizzotto, L., Giatt, L., Musumeci, L., Benini, L., Ramaglia, F., & Santos, S. (2023). Impactos da COVID-19 em crianças e jovens e adaptações relacionadas na Educação, na Alimentação e no Lazer: Panoramas Nacionais e Internacional. https://panexyouth.com/
Giatti, L. L., Ribeiro, R. A., Dales, A. F., & Gutberlet, J. (2021). Complexidades emergentes e omissão crescente: Contrastes entre contextos socioecológicos de doenças infecciosas, pesquisa e política no Brasil. Genetics and molecular biology, 44 (1 Suppl 1).
Häkli, Jouni; Kallio, Kirsi Pauliina. (2018). Theorizing children’s political agency. Establishing Geographies of Children and Young People, p. 1–23.
Wallerstein, N., Duran, B., Minkler, M., & Oetzel, J. G. (2017). Community-based participatory research for health: Advancing social and health equity. John Wiley & Sons.
Fonte(s) de financiamento: Trans-Atlantic Platform Recovery, Renewal and Resilience in a Post-Pandemic World e FAPESP
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