Comunicação Coordenada

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
CC2.8 - Práticas Inovadoras e Populares na Gestão do Trabalho e Educação em Saúde no SUS

50391 - VIOLÊNCIA ARMADA: QUESTÕES DE SAÚDE E DE TRABALHO ENTRE PROFISSIONAIS DA SAÚDE E EDUCAÇÃO EM MANGUINHOS/RJ
FERNANDA MENDES LAGES RIBEIRO - DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE VIOLÊNCIA E SAÚDE JORGE CARELI/ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICO SÉRGIO AROUCA/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (CLAVES/ENSP/FIOCRUZ); PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO (PUC RIO), CRISTIANE BATISTA ANDRADE - DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE VIOLÊNCIA E SAÚDE JORGE CARELI/ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICO SÉRGIO AROUCA/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (CLAVES/ENSP/FIOCRUZ), CAMILA ATHAYDE DE OLIVEIRA DIAS - DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE VIOLÊNCIA E SAÚDE JORGE CARELI/ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICO SÉRGIO AROUCA/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (CLAVES/ENSP/FIOCRUZ), MARIA CECILIA DE SOUZA MINAYO - DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE VIOLÊNCIA E SAÚDE JORGE CARELI/ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICO SÉRGIO AROUCA/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (CLAVES/ENSP/FIOCRUZ)


Apresentação/Introdução
A presente comunicação tem como tema a violência armada (VA) e seus efeitos na saúde e no trabalho de profissionais de saúde e educação, tendo como base uma pesquisa empírica realizada em Manguinhos, no Rio de Janeiro, entre 2019 e 2022. A pesquisa identificou os impactos e sentidos atribuídos à vivência de VA sobre a saúde destes sujeitos, produzindo um panorama dos principais agravos à saúde, dos desdobramentos na vida pessoal, familiar, comunitária e laboral e das repercussões sobre o funcionamento dos serviços/equipamentos e sobre o território. Foram realizados debates visando discutir os resultados e elaborar/compartilhar estratégias de enfrentamento e produzidos materiais de comunicação e divulgação científica. O material da pesquisa está publicado em https://linktr.ee/fernandamlr

Objetivos
O objetivo principal da pesquisa foi produzir evidências científicas sobre os impactos da VA na saúde física e mental da população moradora de Manguinhos e de trabalhadoras(es) da saúde e educação, assim como sobre os serviços/equipamentos e próprio território; e identificar e compartilhar estratégias de proteção e cuidado com os interlocutores e a sociedade.

Metodologia
Realizou-se um estudo qualitativo organizado em duas fases. Na primeira foram aplicados questionários para gestores, realizadas entrevistas individuais e grupos focais e registrados episódios de VA em mídias sociais. Participaram trabalhadoras(es) da Atenção Primária à Saúde (APS) e das Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) e de Urgência/Emergência e de escolas estaduais. A fim de dimensionar a magnitude do problema em Manguinhos, foram registrados episódios de VA por 90 semanas, a partir de relatos no WhatsApp (2 grupos), Facebook (2 grupos) e e-mail institucional da Fiocruz. Em função da emergência de Covid-19, a segunda fase foi desenvolvida remotamente. Foram realizadas devolutivas dos resultados a partir da produção de um Sumário Executivo e de encontros com os participantes e, a fim de ampliar a visibilidade do tema, propostos debates públicos no formato de lives (disponíveis no canal Violência e Saúde do Youtube) em parceria com pesquisadoras(es), profissionais e movimentos sociais, o que subsidiou um Documento Síntese e a produção de materiais de divulgação científica (Ribeiro et al., 2020).

Resultados e Discussão
Em 51% das semanas registradas houve pelo menos um episódio de VA; 52% com alterações no transporte, feridos e fechamento de equipamentos. A partir do início da pandemia as ocorrências caem de 0,7/semana para 0,3, no que consideramos não somente seu impacto, mas da promulgação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n. 365 pelo Supremo Tribunal Federal visando regular as operações policiais, em junho de 2020. São obstáculos ao funcionamento dos serviços: constante interrupção de rotinas, danos a equipamentos, suspensão de atividades comunitárias e fechamento total ou parcial, o que traz efeitos nocivos à saúde física e mental - sensação permanente de insegurança e vulnerabilidade, violações e ameaças de violações de direitos, restrições ao acesso à saúde e educação, elevado sofrimento psíquico, nervosismo, medo, tensão, estresse, desânimo, taquicardia, dores de cabeça e estômago, sensação de desgaste, impotência, esgotamento emocional, alto grau de estresse e exaustão, episódios de pânico, sintomas difusos, quadros psicopatológicos como transtornos de ansiedade e depressão. A VA está relacionada, em grande medida, à política de segurança pública baseada no ideário de “guerra às drogas” e no enfrentamento bélico do varejo visando uma “sociedade livre das drogas", levada a cabo, sobretudo, nas favelas. Como políticas de proteção e cuidado empreendidas pelo poder público e protagonizadas pela sociedade civil estão a ADPF; o uso de WhatsApp para alertar equipes e informar sobre mudanças; o Acesso Mais Seguro (AMS), que classifica riscos e estabelece medidas de proteção; a ética da solidariedade que protege profissionais na rua quando da ocorrência de VA; o engajamento e mobilização local; as plataformas colaborativas como Fogo Cruzado e Onde tem Tiroteio.

Conclusões/Considerações finais
As expressões e impactos da VA sobre as pessoas, serviços e território não podem ser descontextualizadas da violência e do racismo estruturais que mantêm as desigualdades sociais e raciais atreladas à miséria e às iniquidades em saúde. A solidariedade entre moradoras(es) e trabalhadoras(es) é fundamental nas ações de proteção e na produção de cuidado; é necessário o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento que valorizem e fortaleçam ações da sociedade civil organizada e que construam canais de apoio psicológico e espaços de fala. Evidencia-se a necessidade de revisão de políticas de segurança pública, como a de controle de armas e drogas, e a valorização de políticas promotoras de saúde, como de habitação, saúde, educação, lazer e cultura. Apesar das nefastas consequências da guerra às drogas, não conseguimos ainda avançar em um debate público que discuta a questão das drogas como problema de saúde pública, para além da questão estrita da segurança (Ribeiro et al, 2021a; 2021b).

Referências
RIBEIRO, Fernanda Mendes Lages (coord.) et al. Sumário executivo: violência armada e saúde: investigando os sentidos e os impactos da violência entre moradores e trabalhadores da saúde e da educação em Manguinhos/Rio de Janeiro/RJ – estudo de caso. Rio de Janeiro: Fiocruz/ENSP/CLAVES, 2020. 19 p. Doi 10.13140/RG.2.2.32320.87047
RIBEIRO, Fernanda Mendes Lages (coord.) et al. Lives Violência Armada e Saúde: documento Síntese. Pesquisa Conflitos armados e saúde - investigando os sentidos e os impactos da violência entre moradores e trabalhadores da saúde e da educação em Manguinhos/Rio de Janeiro/RJ – estudo de caso. Rio de Janeiro: Fiocruz/ENSP/CLAVES, 2021a. 16 p. Doi 10.13140/RG.2.2.21415.68009
RIBEIRO, Fernanda Mendes Lages et al. Catálogo Pesquisa Violência e Saúde. Rio de Janeiro, Fiocruz/ENSP, 2021b. 4 p. Doi 10.13140/RG.2.2.26448.84488

Fonte(s) de financiamento: CNPq


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