53872 - CORPOS QUE RESISTEM: ACESSO E QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA PRESTADA A TRAVESTIS E TRANSEXUAIS NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) CLEITHIANO CÂNDIDO DE FREITAS - UFCG, GIGLIOLA MARCOS BERNARDO DE LIMA - UFCG, YONARA MONIQUE DA COSTA OLIVEIRA - UFCG
Apresentação/Introdução
As travestis e transexuais são indivíduos que têm menor visibilidade na comunidade LGBTQIAP+ e que estão mais expostas a vulnerabilidades devido a uma série de marcadores sociais. Quando se trata de saúde, essas pessoas têm particularidades que as diferem do grupo. Dada a escassa quantidade de produções científicas pontuais em relação ao acesso dessa população e como a sua qualidade influencia diretamente na qualidade de vida desses indivíduos, vislumbrou-se a necessidade de desenvolver este estudo, na perspectiva de que os serviços de saúde brasileiro se tornem acolhedores e eficazes na resolutividade das demandas da população trans. Dessa forma, esse estudo buscou responder a seguinte pergunta: Como se dá o acesso de pessoas trans e travestis aos serviços do SUS e como essas avaliam sua qualidade?
Objetivos
O objetivo geral do estudo foi caracterizar o acesso de pessoas transexuais e travestis ao Sistema Único de Saúde (SUS) e como objetivos específicos: Traçar o perfil sociodemográfico dos participantes da pesquisa; Identificar as vulnerabilidades do acesso dos participantes aos serviços de saúde; Analisar como os participantes classificam a qualidade do acolhimento e atendimento nos serviços públicos de saúde.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal de abordagem quantitativa e qualitativa. A população da pesquisa foi composta por pessoas travestis e transexuais maiores de 18 anos. O instrumento de pesquisa foi um questionário com variáveis sociodemográficas, questões de saúde e sobre o acesso, acolhimento nos estabelecimentos de saúde e preparo profissional com a população trans e travestis, disponibilizado a partir de redes sociais, no período de abril a maio de 2023. A principal variável analisada no estudo foi sobre o acolhimento da população da pesquisa nos estabelecimentos de saúde do SUS a fim de observar a qualidade da assistência prestada à população pelo sistema. Os dados foram compilados na ferramenta de planilhas Google Sheets® para limpeza e tratamento prévio dos dados. Para análise dos dados quantitativos, foram utilizadas como forma de sumarização, medidas de frequência percentual, com apoio do programa Statistical Package for the Social Sciences versão 18.0 (SPSS SPSS Inc., Chicago, IL, EUA).
Resultados e Discussão
O presente estudo contou com a resposta de 36 indivíduos, a maioria composta por mulheres transexuais (36,1%), homens transexuais (25%) e travestis (22,2%). Quanto ao nível educacional, a maioria possui ensino superior incompleto ou completo (55,5%). A maioria se autodeclarou branca e a outra metade são minorias étnicas. A faixa salarial mensal pessoal é de até um salário-mínimo, sendo que a renda e a escolaridade estão atreladas à empregabilidade. Quase todos utilizam ou utilizaram algum serviço de saúde do SUS, e pouco mais da metade tem seu nome social respeitado nesses serviços. A maioria dos respondentes afirmou ter sofrido algum tipo de preconceito ou discriminação por identidade de gênero no SUS. A queixa principal está relacionada ao desrespeito a nomes, pronomes e gênero. Não foi observado limitação física no acesso aos serviços de saúde do SUS, pois o grupo tem suas demandas resolvidas por tais serviços. Desrespeito ao nome, pronome, gênero, assédio sexual, constrangimento, discriminação, preconceito, transfobia e a demanda constante de preparo profissional para lidar com as demandas das pessoas transexuais são fragilidades que afetam a qualidade da assistência prestada ao grupo.
Conclusões/Considerações finais
O público da pesquisa foi composto majoritariamente por mulheres transexuais, com bom nível educacional, renda de 1 a 3 salários-mínimos, com boas condições de moradia e acolhidas por núcleos familiares, o que reflete que nossa pesquisa se restringiu a um núcleo privilegiado dentro do que normalmente se espera para a população de travestis e transexuais. Em relação a caracterização do acesso aos serviços de saúde do SUS, foi observado que não há limitações físicas, visto que o grupo têm suas demandas solucionadas por tais serviços, e mostra uma boa aceitação em relação ao acolhimento e atendimento pelos profissionais de saúde. No entanto, foram observadas algumas fragilidades no atendimento, como desrespeito ao nome, pronome, gênero, assédio sexual, constrangimento, discriminação, preconceito, transfobia e a cobrança constante por preparo profissional para lidar com as demandas das pessoas transgênero.
Referências
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