50943 - A PRODUÇÃO DE CUIDADOS COM MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA: UM ESTUDO DO GRUPO MADALENAS KATHERINE JERONIMO LIMA - UECE, LIDIA VALESCA BONFIM PIMENTEL RODRIGUES - UECE, ANTONIO RODRIGUES FERREIRA JUNIOR - UECE
Apresentação/Introdução Nos últimos anos, o Brasil vem registrando um significativo aumento do número de pessoas em situação de rua nas grandes cidades. Apesar da predominância da população masculina, vem se observando o crescimento do grupo feminino (Observatório, 2023). Em condições de extrema pobreza, a vivência nas ruas produz uma sociabilidade típica, com maneiras de ser e produzir cuidados em redes de sobrevivência, precarização da vida e violações de direitos. Na rua, as mulheres, especialmente, se defrontem, cotidianamente, com desafios ainda maiores que os homens, atravessadas por vulnerabilidades interseccionadas pelo gênero, pobreza e raça. Elas são vítimas de violências, maior suscetibilidade às doenças e/ou agravos e diversas desigualdades em consequência de uma sociedade estruturada por sistema patriarcal e machista. Com o intuito de potencializar as redes de cuidados e criar estratégias de fala e escuta de si e superação da situação de rua, surgiu, no escopo dos projetos da Casa da Sopa em 2021, o grupo Madalenas, constituído por mulheres em situação de rua de Fortaleza, que vem construindo uma experiencia grupal capaz de criar modos de resistência e busca por direitos em meio às tantas adversidades de quem vive a situação de rua.
Objetivos A partir das experiências registradas no grupo Madalenas de mulheres em situação de rua, compreender as formas de viver a condição de gênero e as formas de produzir cuidados em rede para a superação das vulnerabilidades sociais e violências nas ruas de Fortaleza/CE.
Metodologia O grupo Madalenas surgiu no ano 2021 faz parte das atividades ofertadas as pessoas em situação de rua pelo Grupo Espírita Casa da Sopa, a qual reuni mulheres em situação de rua e em superação de rua. As reuniões são semanais abrangem mulheres cis e trans de diferentes faixas etárias. Os encontros são realizados com rodas de conversa, em que se propõe que elas interajam e falem sobre si mesmas, a partir de um tema ou uma problemática proposta. A partir do método de observação participante/intervenção, o presente estudo partiu de uma epistemologia dialógica de produção de conhecimento, levando em conta o conhecimento produzido pelas próprias participantes e as interações vividas em grupo. Assim, compreender as situações relacionadas as violências em seus percursos de vida e como elas lidam com a violência de gênero nas ruas e constroem as estratégias de cuidado. Pela natureza da pesquisa-ação e do engajamento na luta pela garantia de direitos, busca colaborar com a produção acadêmica; e intervir junto com as mulheres, sujeitos da pesquisa, para a construção de uma consciência sobre sua própria realidade e desenvolver potencialidades e estratégias para a superação da situação de rua.
Resultados e Discussão Na dinâmica da vida nas ruas, as mulheres são marcadas tanto pela necessidade de sobrevivência quanto pela ressignificação de sua própria vida. Em diversas falas, as mulheres ressaltam que viviam situações de opressão e violência no lar e que a saída de casa para as ruas ocorreu para que pudessem ter liberdade, tratava-se de uma fuga dos conflitos, situações ligadas a violência patrimonial por parte de irmãos. Nas ruas, as situações de violência são muito frequentes; tão drásticas quanto as violências domésticas, as violências sofridas no espaço público são marcadas pelas mesmas expressões do patriarcado que oprimem as mulheres, impedindo sua participação como cidadãs plenas de direitos. O grupo Madalenas tem o objetivo de construir rede de cuidado, com foco no gênero. Englobam mulheres cis e transexuais, de diversas idades, com faixas etárias entre 25 e 60 anos. Suas reuniões ocorrem uma vez por semana e as participantes têm livre acesso, sem necessidade de inscrição prévia. Com espaço reservado só para elas, têm acesso a banho, roupas limpas, produtos de higiene pessoal etc. O autocuidado é um elemento fundamental para a superação da situação de rua, englobando o contato com o próprio corpo e a possibilidade de ausentar-se da dureza da rua por um momento. A autoestima se eleva quando elas se olham no espelho, localizado na sala que dá acesso aos banheiros. Em círculo, as mulheres em situação de rua falam sobre si partindo de um tema ou de uma situação problema. As falas são espontâneas e acompanham as experiências e os acontecimentos. Ao longo de dois anos de existência, as rodas de conversa acumulam falas e vivências das ruas como um reexistir em meio às constantes violações de seus direitos.
Conclusões/Considerações finais As mulheres são minoria nas ruas em comparação com os homens, no entanto, vivem uma realidade ainda mais difícil. Mulheres cis e transexuais se encontram em maior vulnerabilidade e sujeitas a violência unicamente devido à sua identidade de gênero. Além das violações aos direitos humanos, a falta de moradia expõe as mulheres a insegurança menstrual, abusos sexuais e estupro. As mulheres em situação de rua participantes desta pesquisa têm trajetórias de extrema pobreza e sofrimento social. O cuidado de si e das outras como expressão de sororidade, uma aliança entre mulheres com efeitos positivos para a superação das violências, minimiza suas vulnerabilidades e alarga sua consciência diante da realidade vivida. No “Grupo Madalenas” se estabelecem práticas que fortalecem a cidadania, trata-se de um espaço de formação de consciência crítica diante da sociedade patriarcal e de seus efeitos nefastos. Assim, proporciona um espaço de educação voltado à luta pela garantia de direitos.
Referências JORGE, Alzira de Oliveira et al. Das amas de leite às mães órfãs: reflexões sobre o direito à maternidade no Brasil. Ciênc saúde coletiva [Internet]. v.27, n.2, p.515–24. Rio de Janeiro, 2022
POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NO BRASIL. Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua. Disponível em; https://obpoprua.direito.ufmg.br/moradia_pop_rua.html Acessado em 25 mai. 2024
SANTOS Gilney Costa; BAPTISTA Tatiana Wargas de Faria; CONSTANTINO, Patrícia. “De quem é esse bebê?”: desafios para o direito à maternidade de mulheres em situação de rua. Cad Saúde Pública, v.37, n.5, e00269320, 2021
Fonte(s) de financiamento: Nenhuma fonte de financiamento
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