53748 - MIGRANTES INDÍGENAS WARAO EM CUIABÁ – MT: CONSTRUÇÃO DE SABERES DE ACADÊMICOS DE SAÚDE COLETIVA CASSIA MARIA CARRACO PALOS - ISC/UFMT, SILVIA ÂNGELA GUGELMIN - ISC/UFMT, ALOIR PACINI - ICHS/UFMT, MONALISA ROCHA DE CAMPOS CHAVES - ISC/UFMT, MURILO KAUÊ LEÃO ARRUDA SOARES, - ISC/UFMT, CELSO RODRIGUES DA SILVA - ISC/UFMT, EMANOELLY DA COSTA ALVES - ISC/UFMT, AMANDA DE MENDONÇA BRANDÃO - ISC/UFMT, FRANCINY BENTA CAMPOS ARRUDA BATISTA. - ISC/UFMT, IARA FERMIN - ISC/UFMT
Contextualização Os Warao são um grupo étnico nativo da América do Sul, mais especificamente da República Bolivariana da Venezuela. Tradicionalmente, habitavam a região dos deltas dos rios Orinoco e Amazonas, vivendo em comunidades em casa, ou “palafitas”, construídas sobre os rios para se protegerem das inundações sazonais e do ambiente pantanoso. Sua subsistência era baseada na pesca, na coleta de frutos da floresta e na agricultura, especialmente de mandioca.
Como muitos povos originários, vêm enfrentando desafios significativos, incluindo pressões ambientais, epidemia de cólera, perda de território nativo devido a invasão progressiva por parte de agricultores, petroleiros e narcotraficantes, que os obrigou a migrarem para outros territórios em busca de melhores condições de vida.
Nos últimos anos, alguns grupos migraram para áreas urbanas brasileiras, como Cuiabá/MT. Essa migração apresenta desafios de adaptação e integração em um ambiente urbano muitas vezes hostil e sem recursos adequados para atender às necessidades específicas, relacionadas à preservação cultural, territorial, alimentação, saúde.
Os desafios enfrentados são bastante inviabilizados para as populações dos grandes centros urbanos. Na própria Universidade onde realizou a experiência constatou que grande parte dos alunos desconhecia a realidade enfrentada pelo grupo e como isso vinha repercutindo no campo da Saúde Coletiva.
Descrição da Experiência A experiência iniciou a partir da disciplina de Eixo II do segundo semestre do curso de graduação de Saúde Coletiva da UFMT, conjuntamente com a disciplina Saúde, Cultura e Sociedade. A ideia era trabalhar com um tema relevante para a Saúde Coletiva no qual os alunos deveriam realizar um trabalho exploratório e um projeto de intervenção que culminaria na apresentação final para os alunos de outros semestres do curso.
A orientação era que o tema a ser trabalhado deveria ter um olhar multidisciplinar com as demais disciplinas oferecidas naquele semestre. Depois de discussões em grupos, os alunos definiram o tema Migração e Saúde, olhando a partir da presença de indígenas Warao que chegavam à cidade numa situação de extrema vulnerabilidade. Após o consentimento da população, foram realizadas visitas de observação a duas comunidades Warao, nos bairros Jardim Passaredo e bairro São José, localizados na cidade de Cuiabá.
Por meio de uma abordagem sensível, respeitosa e culturalmente apropriada, foram realizadas conversas informais sobre o cotidiano e a saúde, articulada de forma intersetorial com o Padre Aloir Pacini, professor do Departamento de Antropologia da UFMT. E realizada uma pesquisa bibliográfica de documentos jornalísticos, teses, dissertações e artigos sobre os Warao no Brasil e em Cuiabá e como forma de disseminação foi realizado um Podcast com uma líder Warao.
Objetivo e período de Realização Conhecer e entender a realidade social e as necessidades da população Warao em Cuiabá, MT. Simultaneamente, desenvolver um projeto de intervenção com o objetivo de contribuir na minimização dos sofrimentos e das vulnerabilidades enfrentadas pelos Warao na cidade. Outro objetivo foi proporcionar uma maior visibilidade para a comunidade junto aos acadêmicos da Universidade Federal do Mato Grosso e da população cuiabana em geral. A experiência aconteceu de 05/07/2023 a 25/10/2023 no ISC/UFMT.
Resultados A migração dos Warao para Cuiabá intensificou-se em 2020, com muitos acampando no entorno da rodoviária e pedindo dinheiro nos semáforos. Um outro grupo depois de ser despejado por atraso no aluguel foi realocado para uma casa compartilhada cedida no bairro São José. Durante o trabalho de campo cerca de 150 coabitavam a casa em condições precárias e sem saneamento básico. Um terço constava de crianças, das quais muitas estavam desnutridas e expostas às violências.
Dentre outros desafios enfrentados pelos Warao a experiência apontou para: barreiras linguísticas, a falta de fluência em português dificulta o acesso aos serviços de saúde e a integração na comunidade local; falta de emprego os leva à pobreza extrema; acesso limitado aos serviços de saúde resultando em atrasos no diagnóstico e tratamento de agravos, prevalência de doenças infecciosas e crônicas; problemas de saúde mental, a migração, marginalização e a xenofobia aumentam casos de depressão, ansiedade e trauma.
Para lidar com essas dificuldades buscam apoio de organizações religiosas, sociedade civil, grupos de defesa dos direitos indígenas, governo local e outras instituições.
Aprendizado e Análise Crítica A experiência vivenciada proporcionou aos alunos maior entendimento das vulnerabilidades sociais e de saúde enfrentadas pelos Warao em Cuiabá. A experiência proporcionou diversos aprendizados para os acadêmicos de Saúde Coletiva tais como; vivência e prática do campo da Saúde Coletiva como resultante dos determinantes sociais; a construção do conhecimento compartilhado coletivamente; a necessidade de trabalhar as questões de saúde de forma interdisciplinar; a necessidade da busca de articulações institucionais diversas e, especialmente, de construir saberes de forma mais solidárias com as populações envolvidas.
Os alunos conseguiram realizar uma grande mobilização junto à comunidade acadêmica em um mutirão de arrecadação de recursos financeiros, de doação de roupas e gêneros alimentícios em prol dos Warao. A intervenção realizada foi um podcast sobre condições de vida e direitos à saúde com a líder Warao e disseminado nas plataformas digitais, o que contribuiu para uma maior a visibilidade das dificuldades sofridas pela comunidade na cidade de Cuiabá, bem como para mobilizar o poder público local e as organizações civis locais para a necessidade de construir políticas públicas voltadas para o atendimento dessa população e para a minimização das iniquidades em saúde.
Referências ACNUR, 2021. Os Warao no Brasil: contribuições da antropologia para proteção dos indígenas refugiados e migrantes. 2021. Disponível em https://www.academia.edu/70922291/Os_Warao_no_Brasil_Contribui%C3%A7%C3%B5es_da_antropologia_para_a_prote%C3%A7%C3%A3o_de_ind%C3%ADgenas_refugiados_e_migrantes. Acesso em 10 jun. 2024.
PACINI, Aloir. Crianças Warao, a parte mais frágil da tragédia dos migrantes forçados por aqui. SIGNIS, 2022. Disponível em: https://www.agenciasignis.org.br/opiniao/aloir-pacini/2022/06/criancas-warao-a-parte-mais-fragil-da-tragedia-dos-migrantes-forcados-por-aqui. Acesso em: 04 set. 2023.
PEREIRA, André Paulo dos Santos. O povo indígena Warao: um caso de imigração para o Brasil. MP no debate. Disponivel em: https://www.conjur.com.br/2019-jan21/mp-debate-povo-indigena-warao-imigracao-brasil#_ftn1, 21 de set. de 2023.
Fonte(s) de financiamento: Nenhum
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