Comunicação Coordenada

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
CC2.3 - Políticas Públicas em Saúde Indígena: diálogos entre os saberes da Saúde Coletiva e os saberes dos territórios

52912 - DIÁLOGOS SOBRE EDUCAÇÃO, TRABALHO E SAÚDE NO TERRITÓRIO INDÍGENA PAITER-SURUÍ EM CACOAL/RO: EXPERIÊNCIA NA FORMAÇÃO DISCENTE EM MESTRADO PROFISSIONAL
ISABELLA KOSTER - EPSJV/FIOCRUZ, JOELMA SAMPAIO DO NASCIMENTO - EAP/SESAU/RO E EPSJV/FIOCRUZ, CLEIBSON ANDRÉ NUNES TORRES - CIB/SESAU/RO E EPSJV/FIOCRUZ, ANGELA ANTUNES DE MORAES LIMA - HRC/SESAU/RO E EPSJV/FIOCRUZ, IALÊ FALLEIROS BRAGA - EPSJV/FIOCRUZ, LETÍCIA BATISTA SILVA - EPSJV/FIOCRUZ, RAIMUNDA NONATA NERIS DOS SANTOS - CRECRR/SESAU/RO E EPSJV/FIOCRUZ, JOSÉ VICTOR REGADAS - EPSJV/FIOCRUZ


Contextualização
A Turma Especial de Cacoal/RO do Mestrado Profissional em Educação Profissional em Saúde surge pela cooperação entre o Programa de Pós-graduação da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) - Fiocruz e a Secretaria Estadual de Saúde de Rondônia, em 2023. Com 20 servidoras(es) atuantes na atenção hospitalar, seus projetos abordam o tema da Educação Permanente como elemento central. O curso tem como base as áreas de Educação e Saúde, mediadas pelo Trabalho, dando o caráter interdisciplinar da Educação Profissional em Saúde, permitindo a compreensão e o enfrentamento da realidade concreta das escolas e dos serviços de saúde (EPSJV, s/d). Foi no âmbito das disciplinas “Educação Profissional em Saúde: Contexto e questões atuais” e “Economia da Educação e Concepções de Formação em Saúde” que a experiência se construiu coletivamente. As versões dessas disciplinas foram adaptadas para atender a modalidade híbrida, ao perfil da turma e ainda aportar às discussões uma perspectiva sócio-histórica brasileira e da região de Rondônia, fugindo das concepções teóricas eurocentradas. Assim, estimuladas pelo conteúdo das aulas e pelas reflexões produzidas em sala sobre o trabalho, a educação e a saúde dos povos originários, organizaram a visita ao território indígena da etnia Paiter-Suruí, conhecida internacionalmente pela ativista Txai Suruí e pelo líder indígena Almir Suruí.

Descrição da Experiência
Em dezembro de 2023, a equipe docente desembarcou em Cacoal, para o início das aulas presenciais com a programação planejada e integrada entre as duas disciplinas, permeando em seus conteúdos debates sobre o estado de Rondônia, sua ocupação pelos povos originários e os projetos de integração nacional levados adiante pelo Estado brasileiro desde o início da república. A proposta da imersão no território indígena Paiter-Suruí, localizado a 40 minutos de Cacoal, nasceu em sala de aula, onde, instigadas(os) pela realização de um exercício organizado em grupos, as(os) discentes apresentaram um levantamento sobre as relações entre os povos originários de Rondônia e as temáticas da educação, do trabalho e da saúde. Esse momento contou com a participação do coordenador regional da Funai - Cacoal/RO, membro da comunidade Paiter-Suruí, que apresentou a dinâmica do desenvolvimento local de seu grupo étnico a partir da agroecologia e o etnoturismo, iniciada em 2008 a partir do Plano de Desenvolvimento Etnoambiental para 50 anos, baseado nos eixos temáticos: Saúde, Segurança alimentar, Educação, Cultura, Sustentabilidade ambiental, Habitação indígenas sustentadas, Meios e vias de transporte e Matriz energética (AMPI, 2008). Assim, para atender ao interesse coletivo de conhecer uma das aldeias, a programação da disciplina foi modificada para oportunizar essa vivência e imersão locorregional.

Objetivo e período de Realização
O relato tem como objetivo compartilhar a experiência de discentes e docentes na atividade de imersão no território indígena Sete de Setembro da etnia Paiter-Suruí na comunidade La Petaña, da linha 11 na Zona Rural do município de Cacoal/RO, em dezembro de 2023, produzindo reflexões sobre como a educação profissional que agrega uma perspectiva sócio-histórica brasileira em sua dinâmica pode mudar a prática de trabalhadoras(es) na saúde.

Resultados
A imersão proporcionou o diálogo entre lideranças, indígenas, discentes e docentes sobre as dinâmicas de vida e as relações dialéticas de trabalho, educação e saúde no território indígena. A construção dessa experiência com a turma acendeu memórias sobre suas próprias vivências e de seus antepassados. Ouvir de algumas e alguns discentes e docentes que era a primeira vez que estiveram em território indígena, bem como, que durante suas graduações, sejam públicas ou privadas, poucas(os) tiveram uma formação que abordasse a saúde indígena, confirmou o quanto a imersão vivenciada foi positiva (EPSJV, 2023). Outra questão percebida foi a convergência entre as reflexões apresentada pelas(os) discentes em sala de aula e os relatos das lideranças indígenas sobre o trabalho, a educação e a saúde experimentados em suas vidas, corroborando para a sedimentação do conhecimento produzido coletivamente. Para o Programa de Pós-Graduação, docentes e discentes a experiência confirmou a ideia de que é possível realizar processos educativos e acadêmicos que busquem se adaptar e integrar ao contexto da turma. Ainda, fortalece a construção da perspectiva decolonial no âmbito da educação profissional.

Aprendizado e Análise Crítica
A vivência nas terras indígenas permitiu conhecer como são constituídas as relações dialéticas entre trabalho, educação e saúde, se surpreender com o tamanho do exercício que as lideranças fizeram para construir conjuntamente o seu plano estratégico de sustentabilidade para seus territórios e ver os frutos colhidos. Essa organização surgiu da necessidade da defesa do território das ações de madeireiros e garimpeiros. Hoje a mata nativa já tem milhares de árvores plantadas, onde realizam a extração da castanha de forma sustentável e produzem café premiado, reconhecido como um dos melhores da região. Por outro lado, revelou-se a influência da cultura não-indígena sob os povos originários, especialmente a religião, pelos relatos sobre abandono da poligamia, sumiço da figura do Pajé e supressão dos festejos, vistos como “pecado”. Foi importante ver que jovens indígenas sejam estimulados a buscar formação em agroecologia, etnoturismo e saúde para a sustentabilidade da comunidade. E essa atividade turística se tornou uma forma de manter viva a cultura de seu povo, ao mesmo tempo passou a ser fonte geradora de renda. No campo acadêmico, a experiência trouxe novas perspectivas internas ao programa, contudo sabe-se que barreiras ainda precisam ser quebradas para uma produção de conhecimento científico colaborativo, com mais experiências como esta.

Referências
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (ESPJV). Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional em Saúde. Apresentação. s/d. Disponível em: https://www.posgraduacao.epsjv.fiocruz.br/apresentacao Acesso: 05/06/2024.
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV). Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional em Saúde. Estudantes da turma especial do Mestrado Profissional da EPSJV fazem atividade de imersão no território. 2023. Disponível em: https://www.posgraduacao.epsjv.fiocruz.br/noticias/estudantes-da-turma-especial-do-mestrado-profissional-da-epsjv-fazem-atividade-de-imersao. Acesso: 01/06/2024.
Associação Metareilá do Povo Indígena Suruí (AMPI). Plano de Gestão Etnoambiental da Terra Indígena Sete de Setembro. Rondônia: ACT Brasil Edições, 2008. Disponível em https://www.paiter-surui.com/_files/ugd/584408_5313741a7fb74fb9934f90b320970d1d.pdf. Acesso: 09/06/2024.

Fonte(s) de financiamento: Governo do Estado de Rondônia - Secretaria de Estado de Saúde de Rondônia (SESAU) - Centro de Educação Técnico Profissional da Área da Saúde de Rondônia - CETAS/RO


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