Comunicação Coordenada

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
CC2.3 - Políticas Públicas em Saúde Indígena: diálogos entre os saberes da Saúde Coletiva e os saberes dos territórios

49312 - MEDICINA TRADICIONAL INDÍGENA NA COMUNIDADE MAUIXI DE RORAIMA DURANTE A CRISE DE COVID-19
ANDRESA BEATRIZ DA SILVA SOARES - UFRR, KRISTIANE ALVES ARAÚJO - UFRR, ANA PAULA BARBOSA ALVES - UFRR, MAXIM REPETTO - UFRR, PAULA TAINA BARBOSA ALVES - UFRR, JULIANA PONTES SOARES - UFRR, ARIOSMAR MENDES BARBOSA - UFRR


Contextualização
As práticas de saúde tradicionais, ao longo dos séculos, têm mantido sua relevância ao evoluir com base nas experiências de diversos povos (Lima; Lima, 2019). As práticas de saúde no Brasil são moldadas pelas características socioculturais dos povos indígenas e influenciadas por processos históricos, como a expansão das fronteiras e a introdução de novos patógenos, frequentemente resultando em epidemias (Coimbra et al., 2007). A pandemia de COVID-19 iniciada em Wuhan em 2019 destacou globalmente a relevância das práticas tradicionais de saúde, que foram revalorizadas como tratamentos viáveis para os sintomas da doença. Especificamente na comunidade indígena Mauixi, em Roraima, observou-se um aumento no uso de plantas medicinais e uma intensificação na transmissão do conhecimento tradicional em resposta ao surto (Costa et al., 2023). Globalmente, 80% da população em países em desenvolvimento utiliza medicina tradicional para cuidados de saúde, com destaque para as plantas medicinais, acessíveis e de baixo custo (Moraes; Mezzomo; Oliveira, 2018).

Descrição da Experiência
Uma estudante Macuxi realizou um estudo em Boa Vista, Roraima, sobre o uso de plantas medicinais na sua comunidade Indígena Mauixi. A pesquisa foi feita por meio de conversas informais. Destacou-se a rica diversidade vegetal e as práticas de medicina tradicional da região Baixo São Marcos da Terra Indígena São Marcos. Durante a pandemia de COVID-19, a estudante observou o aumento do uso dessas práticas medicinais como resposta à crise de saúde e à escassez de medicamentos convencionais, os principais remédios utilizados foram: chás de boldo, eucalipto e casca de limão, xaropes com mel de abelha e casca de copaíba. Esses medicamentos eram frequentemente preparados com plantas nativas, como a salva do campo, com suco de limão, que era preparado e deixado ao sereno durante a noite, ajudando a amenizar a tosse e o cansaço causados pela Covid-19. Outra receita valorizada pela comunidade envolvia a castanha de caju torrada. Após ser assada, a castanha é triturada em um pilão até se transformar em cinza, que é utilizada para preparar um chá, auxiliando no alívio da tosse e na redução do cansaço. Além dessas, outra receita popular era o uso da entrecasca de jatobá, empregada como descongestionante. A entrecasca é colocada de molho e a água resultante é ingerida. O estudo sublinha a importância da preservação e transmissão do conhecimento medicinal indígena.

Objetivo e período de Realização
Objetivo do relato foi descrever o uso de práticas tradicionais de saúde durante a pandemia de COVID-19 na comunidade indígena Mauixi, em Roraima, focando-se nas espécies de plantas utilizadas e na percepção dos membros da comunidade sobre a eficácia desses tratamentos. O estudo foi conduzido na sua Comunidade Indígena Mauixi. no município de Boa Vista, Roraima, em 03 de abril de 2020 a 30 de março de 2022.



Resultados
Foi evidenciado o uso intensificado de plantas medicinais durante a pandemia de COVID-19. Observou-se a realidade da comunidade frente à escassez de medicamentos convencionais, destacando o papel crucial das práticas medicinais tradicionais. A comunidade utilizou ativamente plantas locais como caimbé, súcuba, boldo, eucalipto, limão, aranto, jatobá, copaíba e súcuba. Esses medicamentos eram frequentemente preparados com plantas nativas, como a salva do campo e jenipapo para tratar diversos sintomas, refletindo a riqueza da medicina tradicional na região. Essas práticas foram reforçadas pela transmissão de conhecimento entre gerações e a necessidade de alternativas de saúde eficazes diante da pandemia. A experiência ressalta a importância de integrar e valorizar a medicina tradicional nas políticas de saúde pública, especialmente em contextos de crises sanitárias onde as soluções convencionais são limitadas.

Aprendizado e Análise Crítica
As práticas tradicionais de saúde na comunidade indígena Maiuxi durante a pandemia de COVID-19 revela a vitalidade e relevância dos conhecimentos tradicionais, que foram utilizados eficazmente no tratamento dos sintomas. A resiliência cultural e a importância da transmissão de saberes entre gerações destacam-se como elementos centrais na resposta comunitária a crises sanitárias. A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e a Educação Permanente em Saúde são reconhecidas como fundamentais para integrar essas práticas tradicionais no Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo equidade e respeito às singularidades culturais. Embora este relato forneça percepções importantes sobre o uso eficaz de práticas tradicionais em um contexto de crise, suas limitações incluem a falta de generalização para outras comunidades e a ausência de validação científica rigorosa das práticas usadas. Este estudo sublinha a necessidade de expandir pesquisas para outras comunidades indígenas e realizar avaliações criteriosas que possam confirmar a eficácia dessas práticas. A integração desses conhecimentos no SUS requer uma abordagem que equilibre respeito pelos saberes tradicionais e rigor metodológico, garantindo que as práticas de saúde sejam culturalmente pertinentes e cientificamente validadas, alinhando-se com políticas de saúde que focam em atenção diferenciada e equidade.

Referências
COIMBRA JR., C. E. A., SANTOS, R. V.; CARDOSO, A. M. Processo saúde–doença. In: BARROS, D. C., SILVA, D. O.; GUGELMIN, S. Â., orgs. Vigilância alimentar e nutricional para a saúde Indígena [online]. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2007, pp. 47-74.
COSTA, J. V. R et al. COVID-19: EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, [S. l.], v. 5, n. 5, p. 2269–2277, 2023.
LIMA, Ingrid da Mota Araújo, LIMA, Xênia da Mota Araújo. Os paradigmas da educação nas civilizações antigas e a preparação dos pesquisadores da antiguidade. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 02, Vol. 05, pp. 100-109. Fevereiro de 2019.
MORAES, E. F.; MEZZOMO, T. R.; OLIVEIRA, V. B. Conhecimento e Uso de Plantas Medicinais por Usuários de Unidades Básicas de Saúde na Região de Colombo, PR. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, [S. l.], v. 22, n. 1, p. 57–64, 2018.

Fonte(s) de financiamento: Não se aplica


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