04/11/2024 - 13:30 - 15:00 CC2.1 - Saúde mental, cuidado emancipatório, vulnerabilizações históricas e lutas por direitos |
52211 - O MODUS OPERANDI ‘ARBORESCENTE’ FUNDAMENTANDO PERCEPÇÕES E PRÁTICAS DE UMA EQUIPE SAÚDE DA FAMÍLIA NA ATENÇÃO AOS TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS TATHIANE SOUZA DE OLIVEIRA - FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA, KÁTIA FERNANDA ALVES MOREIRA - FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA, FLAVIA DA COSTA CARDOSO - FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA, CLESON OLIVEIRA DE MOURA - FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
Apresentação/Introdução
Os transtornos mentais comuns (TMC’s) configuram-se como sofrimento psíquico de depressão, ansiedade e sintomas somatoformes (sintomas físicos relacionados a fatores psicológicos), que podem se manifestar em conjunto ou não e em intensidade suficiente para interferir em atividades diárias. É um tipo de sofrimento em que o indivíduo pode apresentar sintomas não-psicóticos como insônia, problemas de memória, sentimentos de inutilidade, dificuldade de concentração, fadiga, irritabilidade, e queixas somáticas. Sendo um transtorno que vem crescendo de forma ascendente na população em caráter global (Oliveira; Carlotto, 2020).
A atenção primária é o primeiro ponto de contato do usuário, para resolver o sofrimento psíquico ou transtorno mental de que sofrem, deveriam recorrer às equipes de saúde da família (eSF) no seu território. Entretanto, isso não ocorre. Dentre os fatos, destacam-se que os médicos e demais profissionais da APS muitas vezes não conseguem reconhecer, diagnosticar, tratar e acompanhar adequadamente esses usuários (AlSalem et al., 2020); ausência de treinamento, desde os cursos de graduação, alta rotatividade, falta de tempo, sub reconhecimento da necessidade de acompanhamento, estigma dos TMC’s, desconforto no atendimento, por não considerar que o gerenciamento desses transtornos como seu papel principal (Wakida et al., 2018).
Objetivos
Este estudo busca compreender quais as percepções e dificuldades dos profissionais da APS para o acompanhamento de usuários com TMC? Justifica-se a pesquisa por acreditar que os conhecimentos e percepções dos participantes sobre saúde mental na APS podem subsidiar uma reorganização no processo de trabalho para atender às necessidades desses usuários.
Metodologia
Pesquisa qualitativa e descritiva, realizada com profissionais de saúde de uma equipe saúde da família de uma capital da Região Norte, no período de maio a agosto de 2023, por meio de oficinas. A análise se deu por meio da análise de conteúdo, sendo a categorização realizada a priori (Bardin, 2016), quer dizer, com base nos objetivos e no referencial teórico. A pesquisa seguiu os critérios consolidados para relatos de pesquisas qualitativas (COREQ). Participaram deste estudo nove (9) profissionais de uma equipe de Saúde da Família/Saúde Bucal. A coleta de dados foi realizada por meio de oficinas, no período de maio a agosto de 2023, às terças-feiras, no turno da manhã, com duração média de duas (2) horas. Foram utilizados como técnicas de pesquisa a entrevista grupal, questionário e o diário de campo para enriquecer a compressão do fenômeno e ampliar o universo informacional em torno do objeto de pesquisa.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição onde a pesquisa foi realizada, sendo assegurado o cumprimento às recomendações da Resolução Nº 466/12, recebendo parecer favorável (parecer nº 5.890.371).
Resultados e Discussão
Os participantes que compuseram a amostra do estudo tinham idade média de 39 com a idade mínima apresentada de 25 anos e a máxima de 58 anos, sendo predominantemente do sexo feminino (67,7%). Quanto ao tempo de atuação na atenção primária, 66,7 % tinham 10 anos ou mais de atuação. Ademais, cerca de 95% dos participantes afirmaram que nunca receberam treinamento acerca de saúde mental. Duas categorias temáticas foram traçadas a priori, “Assimetrias estruturais e organizacionais no acesso de primeiro contato aos usuários com sofrimento mental na APS”, e “Desafios para o Cuidado dos usuários com sofrimento mental”.
Constatou-se, porém, que o acesso de primeiro contato com escuta qualificada não é a tecnologia leve eleita para desenvolvimento de ações de saúde mental, visto que, predomina-se ausência de práticas colaborativas. Evidenciado o desconhecimento do papel da atenção primária à saúde na Rede de Atenção psicossocial e a importância do acolhimento. De maneira geral, as falas apontam para uma lacuna no preparo das eSF atinentes à saúde mental, atribuindo-o este fato a falta de educação permanente em saúde.
Neste sentido, a EPS pode impactar significativamente para sensibilizar os profissionais da APS no reconhecimento da saúde mental, na medida em que o processo de formação profissional é um dos principais obstáculos à implementação da atenção psicossocial. Isto porque, a biomedicina tradicionalmente centra-se no encontro clínico como espaço principal das práticas de cuidado, negligenciando os fatores estruturais que moldam o processo saúde-doença, reproduzindo desigualdades de gênero, étnicas ou raciais (Kinker; Moreira; Bertuol, 2018).
Conclusões/Considerações finais
Este estudo é o primeiro a abordar com tal amplitude à saúde mental na Atenção Primária à Saúde (APS) na capital de Rondônia. Este estudo alerta, que profissionais APS não se sentem os principais responsáveis pelo cuidado em saúde mental. Muitos não conseguem compreender qual é o papel da APS dentro da RAPS. Predominado práticas relacionadas ao cuidado em saúde mental, voltadas às consultas médicas, encaminhamentos, e a prescrição e/ou renovação de psicotrópicos, aliados a falta de qualificação na APS, que traduzem as dificuldades para um cuidado acolhedor aos portadores de TMC’s. Assim, a lacunas evidenciadas demonstram a necessidade urgente de se elaborar estratégias de cuidado em saúde mental na APS, principalmente para desconstrução do estigma e do senso comum de que sofrimento mental é tratado apenas com psicotrópicos e encaminhamentos. E que fortalecer a EPS, pode mitigar as dificuldades que os profissionais da APS enfrentam para a gestão do cuidado em saúde mental.
Referências
ALSALEM, Moayyad et al. Accuracy of initial psychiatric diagnoses given by nonpsychiatric physicians: A retrospective chart review. Medicine, Baltimore, v. 99, n. 51, p. e23708, 2020
OLIVEIRA, Ingryd Myrelly Araújo de; SANTOS, Juliana Siqueira. Política de Educação Permanente em Saúde: análise da gestão regional. Saúde em Redes, Porto Alegre, v. 7, n. 2, p. 67–79, 2021
WAKIDA, Edith K. et al. Barriers and facilitators to the integration of mental health services into primary health care: a systematic review. Systematic Reviews, New York, v. 7, n. 211, p. 1–13, 2018.
KINKER, Fernando Sfair; MOREIRA, Maria Inês Badaró; BERTUOL, Carla. O desafio da formação permanente no fortalecimento das Redes de Atenção Psicossocial. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 22, p. 1247–1256, 2018
Fonte(s) de financiamento: não há
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