Comunicação Coordenada

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
CC2.1 - Saúde mental, cuidado emancipatório, vulnerabilizações históricas e lutas por direitos

51005 - SAÚDE MENTAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: IMPLEMENTAÇÃO DE ABORDAGENS COLABORATIVAS E PESQUISA PARTICIPATIVA BASEADA NA COMUNIDADE EM SÃO PAULO
CARMEN LÚCIA ALBUQUERQUE DE SANTANA - USP, ANTONIO CARLOS SEABRA - USP, JOSÉ GILBERTO PRATES - USP, MARIZA RANGON - APOIO, FRANCISCO LOTUFO NETO - USP


Apresentação/Introdução
Iniquidades em saúde no Brasil refletem a violência e exploração de populações vulnerabilizadas. A persistência desses processos é evidente nas recentes políticas municipais de saúde mental para população em situação de rua (PSR) em São Paulo. O transtorno mental é fator que contribui para que a pessoa viva em situação de rua, por outro lado, as condições de vida nas ruas pioram a saúde mental. A dificuldade em acessar serviços de saúde piora ambas as condições. Pessoas com transtorno mental sofrem mais com a dificuldade de acesso. A vulnerabilidade da PSR expressa-se por pouca longevidade, escassez de acesso aos recursos privados e públicos e carência de educação básica. Além das carências materiais, o problema maior está no fato de o indivíduo não ter autonomia. Para superar essa situação a PSR necessita pensar e intervir, no sentido de alcançar níveis crescentes de autonomia individual e coletiva. O sucesso de programas de atenção à saúde mental da PSR depende de ações intersetoriais. Ações isoladas, além de serem pouco efetivas, contribuem para culpabilização do sujeito que se sente incapaz de se inserir em uma estrutura complexa. Neste contexto a presente pesquisa resulta da colaboração entre universidade, profissionais da rede intersetorial, e pessoas em situação de rua com a finalidade de co-criar estratégias de cuidado culturalmente sensíveis, relevantes e sustentáveis.

Objetivos
1)Desenvolver estratégias integradas de cuidado à saúde mental da PSR, incluindo ferramentas para a educação permanente dos trabalhadores da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
2) Promover ações de educação para aprimoramento das competências, habilidades e atitudes dos trabalhadores da rede em planejar e implementar cuidado em saúde mental para PSR.
3) Incluir usuários dos serviços nos processos formativos e de produção de conhecimento sobre saúde mental e intervenções psicossociais para a PSR.


Metodologia
Pesquisa Participativa de Base Comunitária (Community Based Participatory Reserach – CBPR) a partir do modelo conceitual metodológico proposto por Wallerstein et al (2018). Trata-se de abordagem colaborativa que envolve igualmente todos os participantes, reconhecendo a importância dos diferentes saberes sobre um problema comum. Participantes: profissionais da RAPS e pessoas em situação de rua de São Paulo.
Fases da pesquisa:
A) Formação da Rede Colaborativa da Pesquisa
B) Fase exploratória: 1) Estudo de prevalência de transtornos mentais na PSR em um centro de acolhida de São Paulo. 2) Estudo qualitativo para compreender necessidades da PSR e dificuldades dos profissionais.
C) Fase de desenvolvimento da ação: 1) Levantamento de prioridades de profissionais e usuários dos serviços.2) Desenvolvimento de recomendações para atenção aos transtornos mentais na PSR. 3) Desenvolvimento de aplicativo para rastreamento de transtorno mental a ser aplicada por profissionais não especialistas.
D) Análise dos resultados: Para dados quantitativos utilizamos Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Para os qualitativos realizamos análise temática de conteúdo com o programa ATLAS-ti.


Resultados e Discussão
Foi realizado estudo transversal com amostragem não probabilística, por conveniência, em um centro de acolhida. A coleta de dados foi realizada no período entre julho a dezembro de 2020, por meio de questionário socio demográfico, dos questionários Drug Use Questionnaire, e Alcohol Use Disorders Identification Test, aplicados a 199 pessoas do sexo masculino. Entre outras análises, foi realizada análise univariada entre variável de desfecho (tentativas de suicídio) e potenciais fatores associados. Foram analisadas variáveis independentes: dados sociodemográficos, religião, tempo de vida nas ruas e uso de substâncias psicoativas. A proporção de pessoas com tentativas de suicídio na população estudada foi de 31,2%. O consumo de dez ou mais doses diárias de álcool, o abuso de mais de uma droga, o abuso de drogas prescritas, e o tempo de vida nas ruas entre 05 e 10 anos foram fatores associados à tentativa de suicídio nesta população.
A partir de 10 grupos focais realizados com 30 integrantes da rede colaborativa de pesquisa, foram definidas e implementadas ações referentes às seguintes prioridades para desenvolvimento de ações de atenção à saúde mental: crianças em situação de rua, psicóticos em situação de rua, ações de formação em saúde mental para a rede SUS/SUAS que atue com a PSR.
Finalmente desenvolvemos um aplicativo para identificação de pacientes com transtorno mental em situação de rua, para ser utilizado por profissionais não-especialistas das redes SUS e SUAS em parceria com a Escola Politécnica da USP. Desenvolvemos também uma ferramenta para avaliação da saúde mental de pessoas em situação de rua pela equipe de enfermagem da atenção primária em contextos comunitários. Ambas as ferramentas estão disponíveis on line para a rede colaborativa de pesquisa.


Conclusões/Considerações finais
A pesquisa demonstrou a aplicabilidade de estratégias colaborativas, inclusivas e intersetoriais para enfrentar a complexidade da saúde mental da PSR. A Pesquisa Participativa de Base Comunitária (CBPR) permitiu construir rede colaborativa envolvendo universidade, profissionais da RAPS e PSR. Essa colaboração resultou na definição de prioridades de intervenção e no desenvolvimento de ferramentas inovadoras, como o aplicativo para rastreamento de transtornos mentais e a ferramenta de avaliação para enfermagem na atenção primária. Estudos quantitativos e qualitativos forneceram base para a compreensão das necessidades da PSR e das dificuldades enfrentadas pelos profissionais da rede pública. Análises revelaram elevada taxa de tentativas de suicídio e fatores associados, como abuso de substâncias psicoativas e o tempo de vida nas ruas. Os resultados informaram o desenvolvimento de recomendações práticas e ações formativas, essenciais para a capacitação dos profissionais da rede SUS/SUAS.

Referências
1. Rijal, Syamsu. (2023). The Importance of Community Involvement in Public Management Planning and Decision-Making Processes. Journal of Contemporary Administration and Management (ADMAN). 1. 84-92. 10.61100/adman.v1i2.27
2. Santana , C; Marques, M (2023) Boas Práticas em Saúde e Desafios com a População de Rua Brasília, DF: Editora ABen
3. Santana, C; Rosa, A. (2016) Saude Mental das pessoas em situacao de rua: conceitos e praticas para profissionais da assistência social. Sao Paulo: Epidaurus Medicina e Artes, 2016. Disponivel em https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/desenvolvimento_urbano/saude_mental_pop_rua.pdf
4. Wallerstein N, Duran B, Oetzel J, Minkler M.(2018) Community-based participatory research for health. 3rd. San Franciso: Jossey Bass; 2018.


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