Comunicação Coordenada

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
CC2.1 - Saúde mental, cuidado emancipatório, vulnerabilizações históricas e lutas por direitos

49015 - ESTUDO REFLEXIVO SOBRE O USO DE PSICOTRÓPICOS POR ADOLESCENTES INSTITUCIONALIZADOS
KIRLEY KETHELLEN BATISTA MESQUITA - UFC, MIKAELLE YSIS DA SILVA - UFC, TÁSCIA LIRIEL BEZERRA ALVES - UFC, JÚLIA FERNANDES VIEIRA DA SILVA - UFC, MARIA MARYLANNE BRAGA RODRIGUES - UFC, LUIZA LÍVINA ADRIANO AGUIAR - UNIFOR, FRANCISCO MAYRON MORAIS SOARES - UFMA, JOÃO VICTOR MAGALHÃES DE SOUSA - UFC, MARIA VITÓRIA DO PASSOS PIMENTEL - UECE, PATRÍCIA NEYVA DA COSTA PINHEIRO - UFC


Contextualização
Adolescentes em situação de vulnerabilidade, que adentram ao acolhimento institucional, tem seu plano de cuidados, muitas vezes, distintos de outros adolescentes que não estão institucionalizados, com plano terapêutico fragmentado, estando mais propensos a intervenções psiquiátricas e excesso de medicalização(1). Após a implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)(2), o abrigo passa a ser uma instituição destinada a acolher jovens como medida de proteção até que sua situação jurídica seja definida. Porém, frequentemente o abrigo acaba se tornando um lar permanente, podendo desencadear sentimentos de solidão, abandono, automutilação, estresse e, consequentemente, acentuar a vulnerabilidade aos transtornos mentais, muitas vezes, requerendo o uso de psicotrópicos. Em adolescentes, os transtornos mais frequentes são depressão, transtornos de ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade(3), o ECA, preconiza um tratamento individualizado e especializado para enfrentar doenças mentais. A conduta deve ser cautelosa no que se refere ao uso depsicotrópicos, uma vez que estes medicamentos atuam no cérebro modificando a maneira de sentir, de pensar e, muitas vezes, de agir. Além de poderem acarretar efeitos adversos como irritabilidade, ansiedade, alteração de humor, convulsões, arritmias, e risco de dependência física e psicológica, em caso de uso inadequado(1).

Descrição da Experiência
Trata-se de uma revisão narrativa de caráter qualitativo, descritivo, do tipo teórico-reflexivo. Para orientar a pesquisa, formulou-se a seguinte questão: “Quais as repercussões do uso de psicotrópicos em adolescentes institucionalizados?”. Foram consultadas as bases de dados BDENF (Base de Dados de Enfermagem) e PUBMED, sem restrição temporal, utilizando os descritores "Adolescente Institucionalizado" AND Psicotrópicos OR "Saúde Mental", com os critérios de inclusão: disponibilidade de artigos completos, idioma em português, inglês ou espanhol, e pesquisa original ou revisão de literatura. Na BDENF após aplicação dos critérios de inclusão, foram obtidos 38 estudos. Na PUBMED, foram obtidos 86. Os estudos identificados foram lidos por título e resumo. Após, foram removidos os duplicados e selecionados apenas aquelas que pudessem responder à questão de pesquisa elencada. Portanto, obteve um quantitativo final de 5 artigos científicos para a elaboração da síntese reflexiva. Os dados foram organizados em quadros para categorizar as diferentes repercussões do uso de psicotrópicos em adolescentes institucionalizados. A análise dos dados foi realizada por meio de uma síntese narrativa.


Objetivo e período de Realização
Refletir, a luz da literatura, as repercussões do uso de psicotrópicos por adolescentes institucionalizados.

Resultados

Situações em que adolescentes são extensivamente medicados, dificultam a detecção, e também o diagnóstico de transtornos mentais. É possível que quadros mais graves sejam mascarados pela substância ou por comportamento opositivo, que são mais facilmente identificáveis que outros transtornos mentais(3). A utilização dos psicotrópicos é necessária para tratar o sofrimento humano, todavia, seu uso deve ser integrado a outras medidas terapêuticas que perpassam a farmacoterapia e a psicoterapia para garantir uma assistência mais efetiva. Nesse contexto, devido aos efeitos adversos, os estudos estimulam a diminuição do uso desses fármacos. Para tal demanda, faz-se necessário aliar a terapia com medicação psicotrópica de conduta a outros meios de manejo. Isso pode-se dar através, por exemplo, de rodas de conversa sobre as problemáticas envolvidas e ações de cuidado na perspectiva multidisciplinar, dessa forma possibilitando uma redução da utilização, pois o tratamento não é restrito ao medicamento(4,5). Estudo mostrou que indivíduos que usaram medicamentos aos 13 anos desenvolveram dependência ao medicamento, comparado aos que começaram usar a partir dos 21 anos de idade(4).

Aprendizado e Análise Crítica
Este estudo possibilitou a reflexão de que não se trata de abrir mão do possível uso da medicação, mas de não se aprisionar ao diagnóstico, de modo a não invisibilizar o adolescente e suas relações. O cenário de institucionalização, apesar de muitos benefícios, pode causar ou agravar problemas de saúde mental. Sendo o uso de psicotrópicos uma das estratégias mais utilizadas para amenizar sintomas de crise e tratamento do transtorno a longo prazo. Em associação aos sintomas dos transtornos, destacam-se a influência de fatores biológicos, genéticos e ambientais e de toda situação de vulnerabilidade que os adolescentes vivenciam, como situações de violência seja de caráter físico, mental, moral ou sexual, abandono familiar, abusos de substâncias e negligências.
Tais reflexões reforçam a importância de adotar medidas de segurança quanto ao uso de psicotrópicos, tendo como objetivo incluir uma permanente avaliação sobre os riscos e os benefícios. Ademais, deve-se aliar a outras práticas terapêuticas de caráter não farmacológico, a fim de possibilitar uma melhora holística e tornar o indivíduo protagonista da sua condição de saúde mental. Dessa forma, é imprescindível considerar todo o contexto biopsicossocial dos adolescentes institucionalizados, considerando o indivíduo em suas singularidades, possibilitando um cuidado equitativo, integral e multiprofissional.


Referências
1- OLIVEIRA, A.; VICENTIN, M. C. G.; MASSARI, M. G. Entre medicalização e recusas: crianças e adolescentes nos circuitos socioassistenciais-sanitários. Revista Polis e Psique, v. 8, n. 3, p. 225. 2019.
2- BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União 1990;
3- COSTA, N. R.; SILVA, P. F. A atenção em saúde mental aos adolescentes em conflito com a lei no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 5, p. 1467-1478, Mai. 2017.
4- MCCABE, SE et al. Does early onset of non‐medical use of prescription drugs predict subsequent prescription drug abuse and dependence? Results from a national study. Addiction, v. 102, n. 12, p. 1920-1930, 4 out. 2007.
5- COUTANT, I. The psychiatric treatment of ‘behavioural problems’ in adolescence: between coercion and socialisation. Anthropology & Medicine, v. 23, n. 3, p. 259-274. 2016.

Fonte(s) de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Código de financiamento: 001.


Realização:



Patrocínio:



Apoio: